Brasil recicla 21% de resíduos da construção civil, aponta estudo

Brasil recicla apenas 21% do entulho da construção civil, gerando custos e desperdício de potencial. É urgente impulsionar a economia circular no setor.

Imagem de restos de construção (Foto: Crea-PR).
Imagem de restos de construção (Foto: Crea-PR).

O Brasil recicla menos de um quarto dos resíduos da construção civil, apesar de possuir capacidade técnica e estrutura instalada para multiplicar significativamente esse volume.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), o país gera aproximadamente 48 milhões de toneladas de entulho anualmente, o que corresponde a até 60% dos resíduos sólidos urbanos. Contudo, apenas cerca de 10 milhões de toneladas são efetivamente reaproveitadas, representando cerca de 21% do total.

Setor estratégico e desafios econômicos

Conforme o pesquisador Laerte Scavavacca Jr., da Embrapa Meio Ambiente, o setor da construção civil, responsável por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e 15% dos empregos formais, enfrenta custos adicionais de 10% a 30% nas obras devido à gestão inadequada dos resíduos.

Cada R$ 1 investido em novas habitações gera R$ 2,46 em retorno econômico e cria mais de 18 empregos diretos, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Apesar do impacto positivo, 45% dos resíduos ainda são descartados irregularmente em áreas não licenciadas.

Legislação robusta, mas aplicação desigual

O arcabouço legal para o gerenciamento dos resíduos da construção civil é considerado abrangente. A Resolução Conama nº 307/2002, complementada pela nº 469/2015, estabelece diretrizes para a gestão e destinação dos Resíduos da Construção Civil (RCC).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) instituiu metas de redução e o princípio da responsabilidade compartilhada entre poder público, empresas e consumidores.

Na prática, porém, a falta de fiscalização e de indicadores nacionais compromete o alcance das metas estabelecidas.

Potencial técnico ainda pouco explorado

Scavavacca explica que os resíduos da construção são compostos principalmente por concreto, argamassa, cerâmicas e tijolos, materiais inertes com alto potencial de reaproveitamento. A principal rota tecnológica é a produção de agregados reciclados (AR), utilizados em pavimentação, bases e sub-bases de rodovias, blocos e pisos.

Estima-se que entre 70% a 85% dos resíduos reciclados sejam aplicados em obras de infraestrutura, 10% a 20% em artefatos de cimento e até 10% em aplicações especiais, como concretos leves e muros de contenção.

Desigualdade regional e limitações de mercado

A região Sudeste concentra 65% das cerca de 300 usinas de reciclagem de RCC no país, com destaque para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda assim, a taxa média regional de reciclagem é de apenas 20%.

Entre os principais entraves ao avanço do setor estão os custos logísticos elevados, a falta de escala das usinas e a baixa aceitação dos agregados reciclados pelo mercado da construção.

Caminhos para uma economia circular no setor

Estudos recentes investigam novas aplicações tecnológicas para os resíduos, como o uso em geossintéticos, asfalto-borracha e concretos estruturais de baixo teor, em conformidade com normas como a NBR 15116. Uma tendência crescente é o emprego de usinas móveis posicionadas próximas às obras, o que contribui para a redução de custos de transporte e das emissões de dióxido de carbono.

“Para que o país avance na economia circular do setor, especialistas recomendam cinco ações prioritárias: fortalecer a aplicação das resoluções do Conama, criar políticas de compras públicas que priorizem materiais reciclados, incentivar plantas móveis regionais, padronizar certificações e ampliar pesquisas sobre novos materiais”, enfatiza Scavavacca.

Segundo o pesquisador, “a reciclagem de RCC no Brasil tem o potencial de reduzir significativamente o consumo de recursos naturais e os impactos ambientais decorrentes da disposição inadequada. No entanto, para transformar esse potencial em resultados concretos, o país precisa alinhar políticas públicas, inovação tecnológica e incentivos econômicos que consolidem o reaproveitamento como uma prática estrutural da construção civil”.

Fonte: Canal Rural.