O professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea, Lucilio Alves, estima que o Brasil poderá exportar um volume de milho superior ao dos Estados Unidos. A expectativa se dá devido ao amplo excedente desde meados de 2022 e à demanda crescente pelo cereal brasileiro, que vem sendo favorecida pelas restrições observadas nos maiores exportadores mundiais, como Estados Unidos, Argentina e Ucrânia.
Segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil está prestes a alcançar um marco histórico em sua produção de milho. O país poderá exportar o mesmo volume que os Estados Unidos na temporada 2022/23, totalizando 51 milhões de toneladas entre outubro de 2022 e setembro de 2023.
Produção
De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção nacional projetada e os preços esperados no mercado internacional, devidamente internalizados, influenciam substancialmente a disponibilidade doméstica e a taxa de câmbio brasileira. As exportações crescentes e previsões futuras são resultados de um excedente doméstico próximo de 55 milhões de toneladas de milho tanto para a temporada 2021/22 quanto para a 2022/23, considerando a produção nacional projetada, os preços esperados no mercado internacional e a taxa de câmbio doméstica.
Na safra 2021/22 (produto colhido em 2022), a disponibilidade interna estimada é de 129,45 milhões de toneladas, com 74,56 milhões de toneladas destinadas para o mercado interno e o volume restante disponível para a venda externa até a chegada da nova safra. Para a temporada 2022/23 (colheita em 2023), a disponibilidade interna estimada é ainda maior, com 134,43 milhões de toneladas e demanda de 79,38 milhões de toneladas aos preços previstos no mercado internacional.
Exportações
Caso as previsões se confirmem, mais de 55 milhões de toneladas estarão disponíveis para compradores externos. Com base neste excedente, o USDA estima novo avanço nas exportações brasileiras de milho, podendo o Brasil se tornar o maior exportador mundial na temporada 2022/23.
A oferta abundante de milho no Brasil pressiona as cotações domésticas em direção à paridade internacional, favorecendo os compradores brasileiros e abrindo espaço para as exportações, trazendo recursos internacionais para o mercado nacional.
Nesse sentido, é importante destacar que, em um mercado com transações internacionais sem restrições, os preços domésticos tendem a estar alinhados com os parâmetros externos, para qualquer volume que venha a ser exportado ou importado. Quando há excedentes, os preços domésticos são pressionados até o patamar em que vender o produto para o mercado internacional resulta em maior receita em moeda local.
Porém, ainda pairam incertezas sobre a disponibilidade efetiva do milho brasileiro, já que mais de 75% da produção interna vem do milho de segunda safra e o cultivo deste tipo de milho para 2022/23 está atrasado em decorrência da lenta colheita, sobretudo da soja, que tem sido afetada por chuvas intensas. As exportações também tendem a diminuir conforme a disponibilidade interna se reduz, até que a colheita de uma nova safra esteja disponível.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, a disputa acirrada por área com a soja e o milho deve continuar, mas é de se esperar que os excedentes norte-americanos possam voltar aos patamares normais, possibilitando a retomada das dianteiras das exportações mundiais. No entanto, o Brasil ainda tem muita capacidade de elevar sua oferta, principalmente na segunda safra, podendo acirrar a disputa do mercado mundial de milho com os Estados Unidos.
Fonte: Cepea.