Ao todo, o relatório Greenpeace Nordic avaliou as emissões estimadas de metano de 29 empresas de carnes e laticínios
As emissões de gás metano de cinco das maiores empresas de carnes e lácteos do mundo estão quase em linha com o nível de emissões das principais gigantes do setor de combustíveis fósseis, de acordo com um novo estudo do Greenpeace.
Segundo o levantamento, os frigoríficos brasileiros JBS, Marfrig, Minerva, e as companhias americanas Cargill e Dairy Farmers of America, juntos, emitem mais de 9 milhões de toneladas de metano em um ano, que é um dos gases do efeito estufa (GEE).
O mesmo patamar de emissões é alcançado, quando combinado, pelas petroleiras ExxonMobil, Chevron, Shell, TotalEnergies e BP, diz o estudo.
Ao todo, o relatório Greenpeace Nordic avaliou as emissões estimadas de metano de 29 empresas de carnes e laticínios, uma vez que um dos principais emissores do gás é o gado bovino. A emissão acontece em meio ao processo digestivo do animal por meio do chamado “arroto do boi”.
O relatório também analisou as 100 maiores empresas do setor de combustíveis fósseis do mundo. As projeções do Greenpeace contaram com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) como base.
Shefali Sharma, gerente sênior da campanha agrícola do Greenpeace Nordic, afirma, no relatório, que há uma “superprodução e consumo excessivo de carne e laticínios” que precisam ser limitados, com o intuito de conter o aquecimento do planeta.
“Por muito tempo, hesitamos em relação às grandes empresas de carne e laticínios e seu crescimento desenfreado, como se elas estivessem de alguma forma isentas de fazer as mudanças drásticas exigidas de todos os outros neste planeta”, diz Sharma.
Em sua avaliação, os governos precisam assumir essa pauta de redução nas emissões e apoiar os produtores rurais para uma transição nos sistemas produtivos.
Isso porque, se não forem regulamentado, os segmentos de carne e laticínios devem aquecer o mundo em 0,32°C adicionais até 2050, de acordo com o estudo do Greenpeace.
O levantamento, então, sugere uma mudança radical na produção e nos hábitos alimentares da população, que poderiam resultar em um efeito de resfriamento de 0,12°C até 2050.
Para atingir essa projeção de resfriamento do planeta, o Greenpeace estima que seria necessário cortar aproximadamente 50% da produção e consumo global de carnes e lácteos, com foco em regiões como Brasil, Estados Unidos, China e União Europeia – algo praticamente inalcançável, considerando o cenário atual de demanda.
Somente em setembro deste ano, o Brasil exportou um volume inédito de carne bovina. Foram embarcadas 286,7 mil toneladas, quantidade 30,8% maior que a exportada no mesmo período do ano passado, e ainda 7% acima do recorde mensal registrado em julho deste ano, conforme dados do governo federal, compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Outro lado
Procurada pela reportagem, a Cargill informou em nota que reconhece a urgência da crise climática global. A empresa disse que também está comprometida com a segurança alimentar do mundo e busca fazer isso com menos impacto no planeta.
“É por isso que estamos tomando medidas em nossas operações e cadeias de suprimentos para reduzir nossas emissões de gases de efeito estufa, incluindo o metano”, afirmou em nota.
A Cargill ressaltou que, em 2023, reduziu as emissões de suas operações em 15,84%, superando a meta de 10% estimada até 2025. “Embora estejamos orgulhosos disso, reconhecemos a necessidade de impulsionar ainda mais ações climáticas em nossas operações e dentro da cadeia de suprimentos”.
Com isso, a meta da companhia é reduzir as emissões do Escopo 3 em todas a cadeia de suprimentos em 30% até 2030.
Já a Marfrig questionou, em nota, a metodologia usada pelo Greenpeace para estimar as emissões de metano da companhia e destacou sua meta de reduzir em 33% suas emissões até 2035. A empresa destaca que as emissões do setor de proteína estão concentradas no escopo 3, onde estão operações indiretas que envolvem sua cadeia de valor, enquanto o setor petrolífero se concentram no escopo 1, diretamente ligado à atividade industrial.
“O mais apropriado seria comparar as emissões totais de ambos os setores por meio do equivalente em CO2, conforme orientado pela Science Based Targets Initiative (SBTi), organização internacional da qual a empresa é signatária desde 2020”, explica o frigorífico.
A Minerva também questionou a metodologia usada pelo relatório. De acordo com o frigorífico, suas emissões nos três escopos (1, 2 e 3) somaram 691,5 mil toneladas em 2023, 37% a menos do que o divulgado no estudo.
“Para medir as emissões de GEE em seu inventário corporativo, a Minerva Foods segue as diretrizes do Programa Brasileiro GHG Protocol, uma adaptação local da ferramenta GHG Protocol – A Corporate Accounting and Reporting Standard,ccompatível com as normas da Organização Internacional de Normalização (ISO) ecas metodologias de quantificação do Painel Intergovernamental sobre MudançascClimáticas (IPCC)”, detalha a nota.
A JBS, por sua vez, alegou não ter tido acesso prévio à metodologia do Greenpeace e chamou a comparação de “inapropriada”. “Vários estudos demonstraram que a agricultura e a pecuária podem não só propiciar a produção de alimentos necessária, mas também desempenhar um papel significativo na redução de emissões e na captura de gases de efeito estufa (GEE) da atmosfera por meio de práticas como melhoria do manejo do solo, eficiência da produção e desmatamento zero”, afirma a companhia em nota.