Criticada e chamada de “incompetente”, ministra chamou parlamentares de “ambientalistas de conveniência”
A participação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em uma audiência na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados foi marcada por bate-bocas, dedos em riste e trocas de acusações com parlamentares. Criticada e chamada de “incompetente”, a ministra chamou deputados de oposição de “ambientalistas de conveniência” e os acusou de usar o tema ambiental para “lacrar” nas redes sociais.
Ela foi confrontada por integrantes da comissão sobre eventuais falhas do governo durante as queimadas. A ministra argumentou que o próprio Congresso reduziu os valores solicitados no Orçamento pelo Ibama e pelo ICMBio para o combate a incêndios.
A discussão mais acalorada se deu entre Marina e a deputada Júlia Zanatta (PL-SC). Ao ser acusada de não estar respondendo aos questionamentos e de ouvir que deveria pedir demissão do cargo, Marina alfinetou a parlamentar, ao dizer que ela jamais se dedicou à pauta ambiental e que agora se mostra preocupada com as mudanças climáticas.
“Capacho é quem faz discurso de encomenda. Mesmo conhecendo a biografia de uma pessoa, faz discurso de encomenda, para fazer lacração. E vem aqui com fala manda fazer acusações inverídicas. Isso é ser capacho”, disse a ministra. “Quem não defende aparece agora como ambientalista de conveniência, que nunca fizeram nada”, completou.
Com o alvoroço causado pela fala, Marina também discutiu com o presidente da comissão, o deputado Evair Vieira de Mello (PP-ES). A ministra o acusou de permitir falas desrespeitosas durante os trabalhos. “Vossa Excelência está com dificuldade de presidir”, disse Marina, posteriormente chamada de “ignorante” pelo deputado.
Antes, Marina também já havia discutido com os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Ricardo Salles (Novo-SP), este último ministro do Meio Ambiente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Maioria na comissão, os bolsonaristas acusaram Marina e o governo de inação nas queimadas que se espalharam pelo país e cobraram uma retratação sobre as acusações contra o ex-presidente em incêndios passados.
Ações federais
Marina foi convidada a falar na Comissão de Agricultura sobre as queimadas que atingiram vários biomas do país neste ano. Ela defendeu as ações tomadas pelo governo federal, especialmente aquelas voltadas à redução do desmatamento na Amazônia. “Não sei o que estaria acontecendo se o desmatamento tivesse continuado subindo a mais de 50%”, disse ela, em referência ao governo anterior.
“O governo federal tem a consciência de que vai ter que intensificar a cada ano as suas ações e estamos intensificando, aumentando os orçamentos, aumentando a governança e desenhando as políticas públicas para que sejam levadas a cabo”, disse a ministra. “Não tem mais que fazer como sempre fizemos. A ciência está dizendo isso”, completou.
Marina se referia a medidas de enfrentamento e adaptação que ainda estão em fase elaboração em esfera federal. “Estamos trabalhando em cerca de 17 medidas de adaptação. E em medidas para Estratégia Nacional de Enfrentamento a Eventos Climáticos Extremos. Por que é complexo? Porque é um novo paradigma”, disse ela.
A ministra ressaltou a importância de que os entes federativos tenham estratégias prévias aos eventos climáticos, e não apenas para depois. “Podemos decretar emergência climática antecipadamente. Na seca do Amazonas, por exemplo, podemos estocar cesta básica, alimento, combustível e remédio antes”, afirmou Marina, ao lembrar que após o início dos eventos, as ações ficam mais difíceis e mais caras.