Primasea investe em balsa de coleta marítima e prevê faturar R$ 100 milhões em 2024
Um hotel cinco estrelas para microrganismos, com aparência de um favo de mel. É assim que a Primasea descreve a estrutura de seu principal produto, o Lithothamnium, um grupo de algas marinhas, com grande capacidade de acumular nutrientes entre suas paredes celulares e beneficiar plantações. Com faturamento de R$ 80 milhões no ano passado, a companhia aposta no crescimento do uso de bioinsumos para faturar R$ 100 milhões neste ano.
Além da demanda firme, a Primasea conta com um investimento de R$ 17 milhões para transformar a balsa Belov Piatã em um moderno navio de coleta de Lithothamnium. Com quatro bombas, um número duas vezes maior que o do navio anterior, a expectativa é que, em um ano, a empresa consiga passar de 80 mil toneladas para 120 mil toneladas de alga coletada.
Após completarem seu ciclo de vida, as algas Lithothamnium se desprendem das rochas e outras paredes oceânicas e são levadas por correntes marítimas para uma região, onde se sedimentam. Esse composto de algas tem alta concentração de minerais, como cálcio e magnésio, além de 16 aminoácidos necessários aos processos fisiológicos de animais e plantas. A estrutura em forma de favo de mel e de alta porosidade garante a biodisponibilidade de seus nutrientes e permite uma absorção mais fácil pelas plantas.
“Não extraímos nada vivo do mar, estamos falando de sedimentos de algas que já completaram seu ciclo de vida”, esclarece Lucas Ávila, que assumiu recentemente o posto de principal executivo da companhia, depois de passar por Ourofino e Ihara.
Ele tem como missão principal expandir os negócios da Primasea para a pecuária, porque hoje 60% dos clientes são da área agrícola. “Testes mostram que o sistema digestivo dos animais é muito beneficiado pelo consumo de ração com nossos produtos. Os ruminantes emitem menos metano, devido ao aumento da atividade bacteriana. Na avicultura, observou-se melhoria na taxa de postura, maior longevidade das matrizes e mais qualidade da casca do ovo”, diz o executivo.
No mercado de vegetais, 50% das vendas da Primasea são para empresas que produzem fertilizantes minerais e 50% diretamente ao produtor, principalmente de soja e milho. Mas há também clientes na citricultura e produtores de hortifrútis. No mercado animal, a companhia só vende para indústrias de ração.
A Primasea tem a maior concessão para explorar Lithothamnium do mundo, na região da Baía de Todos os Santos (BA), com 5 mil hectares de área delimitada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A região tem capacidade para extrair 600 mil toneladas ao ano. Por enquanto, ainda não passou do primeiro quadrante de exploração e bem longe de esgotar os recursos, conta o executivo.
“Queremos chegar a utilizar o primeiro quarto nos próximos três ou quatro anos, mas precisamos mudar a mente dos produtores que ainda não entenderam o benefício completo dos fertilizantes minerais”, afirma o CEO. Para ele, é claro que esses insumos não substituirão os químicos, mas podem potencializá-los.
O Brasil tem a maior reserva dessa alga do planeta, com regiões sedimentares que vão do litoral do Maranhão até o Espírito Santo. A escolha da empresa em explorar na Bahia deveu-se a infraestrutura de portos. “O Estado tem seis ou sete portos e precisamos deles para o descarregamento rápido das algas”, diz Ávila.
A extração é feita a 20 metros de profundidade, a dez metros da baía — em área perto da costa, portanto, mas não de uma cidade. Depois de os sedimentos serem retirados do mar, eles são descarregados, peneirados e secos. Em seguida, são moídos em várias granulometrias diferentes a depender da mistura e do produto final que comporão.
Com rigorosos controles de qualidade e de práticas ambientais, atestadas por quatro certificações internacionais, a PrimaSea possui método exclusivo para a coleta de algas marinhas, que utiliza uma bomba de sucção e separa, dentro da própria embarcação, o material a ser utilizado para a fabricação dos produtos. O restante é devolvido para o mesmo ponto do depósito no fundo do mar, para evitar impacto ao bioma marítimo e garantir a manutenção dos nutrientes e PH da água.
A Primasea levou 12 anos entre licenças e estudos para começar a exploração de algas, o que ocorreu em 2014 . “A barreira de entrada é grande e tem que ser porque estamos falando de explorar o mar, por isso temos poucos concorrentes no Brasil [apenas duas outras empresas] e no exterior”, afirma o executivo.