Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), de Guarapuava, abriu neste ano a primeira turma do curso de Tecnologia em Big Data no Agronegócio
A produtora Celina Junqueira Issa, de Carambeí, nos Campos Gerais do Paraná, tem na tecnologia uma aliada para otimizar o trabalho na fazenda e melhorar a produtividade. Ela utiliza as informações dos mapas de colheita – gerados por plataformas de máquinas agrícolas com tecnologia de ponta – para direcionar o trabalho na fazenda. “Esses dados são o ponto de partida para o meu agrônomo programar a próxima safra”.
A tecnologia vem ganhando espaço cada vez maior nas propriedades rurais, impulsionando o mercado – com lançamentos de máquinas e ferramentas de última geração – e também já abre espaço nos ambientes de formação profissional.
É o caso da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), de Guarapuava, que abriu neste ano a primeira turma do curso de Tecnologia em Big Data no Agronegócio. “Esse curso tem a minha cara”, define André Luiz Dutra da Silva, 40 anos, um dos alunos.
André atua há 22 anos na área de prestação de serviços para o setor agrícola e viu na oportunidade uma chance de se aprimorar na profissão. “É uma maneira de aprofundar o olhar para as ferramentas e maximizar o potencial que elas têm”, enfatiza o acadêmico, que é consultor de vendas em uma concessionária de máquinas agrícolas do município.
O curso, que está na primeira turma e teve as 40 vagas ofertadas preenchidas, tem como foco a compreensão do grande volume de dados (big data) gerados pelos equipamentos e ferramentas aplicados na agricultura de precisão e digital.
“Estaremos formando profissionais aptos para contribuir para a tomada de decisão no campo. A junção da agronomia e da tecnologia é o futuro”, avalia a professora Carolina Paula de Almeida, coordenadora do curso.
Guarapuava ocupa o topo do ranking das cidades mais ricas do agronegócio no Paraná, conforme pesquisa do IBGE que mede a Produção Agrícola Municipal (PAM). O levantamento foi divulgado em 2023, considerado balanço de 2022 que incluiu área colhida, produção, valor da produção das lavouras e rendimento.
A proposta do curso é formar profissionais capazes de organizar dados e transformá-los em informações e conhecimentos sistematizados, visando planejamento estratégico para as fazendas. A iniciativa uniu os departamentos de Ciência da Computação e de Agronomia.
“Em todos os setores da agropecuária, máquinas, drones e ferramentas da agricultura de precisão geram informações para serem avaliadas e interpretadas, com o intuito de alavancar a produtividade. Com uma formação específica, o profissional sai muito mais preparado para explorar as possibilidades da agricultura digital”, ressalta o professor do departamento de Agronomia da Unicentro, Leandro Rampim, que participou da criação e é membro do Núcleo Docente Estruturante do curso.
O professor Richard Aderbal Gonçalves, chefe de departamento de Computação, acrescenta que a grade curricular é voltada ainda a capacitar os estudantes para aplicar os dados em soluções para os problemas no campo.
“Também queremos que nossos alunos desenvolvam habilidades humanas, além das técnicas, preparando-os para gerar impacto social”.
A jornalista Caroline Albertini Silva, 28 anos, também é acadêmica do curso. Ela escolheu a nova área para fazer uma transição de carreira e acredita que está no caminho certo: “sinto vontade de vir para a aula”, frisa. Ela diz esperar um mercado de portas abertas quando se formar, dentro de três anos.
Mercado de trabalho
Atuar com desenvolvimento de softwares para o agronegócio, projetos de redes de sensores e de transmissão de dados em tempo real, desenvolvimento de sistemas em nuvens e aplicação de técnicas de inteligência artificial no auxílio à tomada de decisões no processo produtivo e investimentos agrícolas são só algumas das possibilidades que o profissional com essa formação superior – disponível em apenas outras duas instituições de ensino de São Paulo – pode encontrar.
Robson Cerqueira Mota, gerente de agricultura de precisão em uma concessionária de máquinas agrícolas em Ponta Grossa (PR), sabe bem do que se trata esse ambiente. Em seu local de trabalho, a evolução é constante, uma vez que ele atua com vendas de uma fabricante multinacional.
“Tudo aqui é tecnológico e temos clientes que comentam que falta mão de obra para atuar com esse nível de maquinário”.
No entanto, aqueles que adquirem os equipamentos mais modernos, segundo ele, têm uma mudança em relação ao conceito da agricultura digital. “A tecnologia vem para transformar o cenário da agricultura e a partir do momento que o produtor começa a ter o retorno disso, gera um impacto”, acrescenta.
Entre as máquinas disponíveis, estão modelos com sistema de telemetria, que captam dados das lavouras e do rendimento da máquina via satélite e enviam para a nuvem e para a central de inteligência da concessionária.
Virada de chave
A produtora Celina acredita que o momento é de “virada de chave” no campo. Desde 2020 ela tem investido de maneira mais efetiva em tecnologia na propriedade. Além de contar com apoio da cooperativa da qual faz parte no que diz respeito à agricultura de precisão, ela procurou entender a fundo as soluções de tecnologia oferecidas pelas máquinas agrícolas e demais aportes tecnológicos da fazenda.
Com sinal via satélite a fim de garantir a transmissão ininterrupta dos dados aos mapas de interatividade, ela também aposta em sistemas digitais de gestão de processos para aumentar a produtividade e a saudabilidade financeira do negócio. “Consigo entender a produção talhão a talhão”.