
A COP30 posicionou o Brasil no centro de um movimento climático global: a adesão da União Europeia e da China à coalizão liderada pelo Brasil para integrar mercados regulados de carbono. Este é um passo crucial para converter promessas ambientais em um sistema tangível de regras, preços e novas oportunidades.
Na prática, o grupo visa harmonizar os padrões de medição e verificação de emissões (MRV), estabelecer regras de integridade e abrir caminho para a união entre sistemas nacionais de precificação de carbono. O Brasil transcende seu papel de mero exportador de matérias-primas para se firmar como um formador de regras, uma posição estratégica que lhe confere poder de agenda e protagonismo diplomático.
Impactos para o agro brasileiro
Para o agronegócio brasileiro, essa movimentação pode parecer distante, mas está muito mais próxima do que se imagina. Um mercado de carbono integrado **valoriza práticas sustentáveis** e **penaliza cadeias produtivas com alta pegada ambiental**. Produtores que comprovarem eficiência, uso de bioenergia e manejo de solo que sequestra carbono tenderão a ganhar competitividade; aqueles que não se adaptarem correm o risco de serem excluídos de mercados rigorosos, como o europeu.
A entrada da União Europeia e da China neste movimento não é coincidência. Bruxelas busca reduzir o custo do ajuste de fronteira de carbono (CBAM), enquanto Pequim almeja influenciar as novas regras globais, em vez de apenas segui-las. O Brasil, como um grande exportador de alimentos e guardião da maior floresta tropical do planeta, assume o papel de **mediador natural**, com potencial para transformar seu patrimônio ambiental em uma significativa vantagem econômica.
Sem um **mercado regulado nacional robusto**, com regras claras e credibilidade, o país pode ficar de fora “da elite climática” e ter suas exportações taxadas por falta de comprovação ambiental. A corrida, portanto, não se trata apenas de crédito de carbono, mas de **governança, transparência e tecnologia**.
A “era do carbono” deixou de ser um tema de conferência e está chegando à rotina de quem planta, cria e exporta. O Brasil tem uma oportunidade rara de conciliar **preservação e competitividade**, transformando seu protagonismo ambiental em um diferencial econômico. Contudo, como em qualquer mercado, quem não mede, **perde**.
Brasil e o potencial de liderança
Entre os signatários iniciais da Open Coalition on Compliance Carbon Markets, liderada pelo Brasil, estão a União Europeia, China, Reino Unido, Canadá, Chile, França, Alemanha, México, Armênia e Zâmbia. O Brasil, como país anfitrião, ocupa uma posição central nesta articulação que visa conectar mercados regulados de carbono e definir padrões globais para a precificação das emissões.
Na prática, o Brasil está contribuindo para a elaboração do “manual” da nova economia climática. A partir de agora, o carbono se torna parte integrante do custo de produção, equiparando-se a energia, insumos e logística. Quem reduzir emissões ou comprovar boas práticas será recompensado. Quem ignorar o tema será penalizado, direta ou indiretamente, pelos mercados internacionais.
Para o campo, isso significa que **sustentabilidade deixa de ser um discurso e se torna um diferencial econômico real**. Plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, uso de bioenergia e certificações ambientais passarão a ter valor monetário, de forma literal.
O Brasil possui todas as condições para ser **líder e não refém** dessa nova ordem. No entanto, isso exige ação imediata: a criação de uma estrutura de mercado, uma regulação confiável e apoio técnico ao produtor. Se o país souber aproveitar o momento, tem o potencial de transformar o carbono em seu **novo produto de exportação**. Caso contrário, corre o risco de ver o futuro avançar, medido em toneladas de CO2 e oportunidades perdidas.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política
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Fonte: Canal Rural.








