
O Brasil almeja apresentar na COP30, em Belém, um plano robusto de US$ 125 bilhões destinado à valorização econômica das florestas tropicais, posicionando a conservação como um ativo de relevância global. O mecanismo, denominado Tropical Forests Forever Facility (TFFF), visa recompensar países tropicais por manterem suas matas em pé, transcendendo o apoio a iniciativas pontuais de carbono.
A proposta, que teve seu lançamento oficial na COP28 em Dubai no final de 2023, será amplamente apresentada durante a conferência do clima em 2025. O plano delineia a mobilização de US$ 25 bilhões em recursos públicos ou filantrópicos, complementados por aproximadamente US$ 100 bilhões provenientes do setor privado. O Brasil já confirmou um investimento inicial de US$ 1 bilhão e busca ativamente novos parceiros, com o objetivo de captar até US$ 10 bilhões no primeiro ano de operação.
Quanto dinheiro está na mesa
O TFFF está projetado para remunerar em torno de US$ 4 por hectare anualmente por área de floresta efetivamente conservada, com o monitoramento realizado via satélite. Nações que optarem pelo desmatamento poderão enfrentar sanções severas, chegando a US$ 400 por hectare destruído. Adicionalmente, uma parcela de 20% dos fundos será direcionada diretamente a povos indígenas e comunidades locais que residem em áreas protegidas.
A COP30 servirá como plataforma global para solidificar este fundo e avaliar a capacidade do Brasil em liderar um novo paradigma de financiamento climático de longo prazo. Esta iniciativa marca uma mudança conceitual significativa: trata-se de um investimento com retorno ambiental e social, e não de uma mera doação.
De acordo com a Conservação Internacional, o TFFF tem o potencial de triplicar os recursos anuais destinados à Amazônia, que atualmente oscilam entre US$ 600 milhões e US$ 700 milhões, podendo alcançar até US$ 2 bilhões. Estes fundos poderão ser aplicados no financiamento de iniciativas de proteção florestal, geração de renda local, desenvolvimento de infraestrutura sustentável e implementação de tecnologias de monitoramento ambiental.
O que muda para o agro brasileiro
Para o agronegócio brasileiro, este programa pode abrir novos horizontes em regiões de fronteira agrícola. Produtores terão a oportunidade de se integrar a esquemas de conservação e de serviços ambientais, estabelecendo fontes de renda adicionais e reforçando a reputação internacional do setor. Por outro lado, a crescente valorização da terra e o aperfeiçoamento das regulamentações ambientais poderão demandar maior eficiência e aprimoramento na gestão produtiva.
Especialistas ressaltam que o êxito do TFFF dependerá de uma governança transparente, monitoramento eficaz e critérios equitativos para a distribuição dos recursos. Persistem também questionamentos sobre a suficiência do valor de US$ 4 por hectare para mitigar as pressões econômicas que impulsionam o desmatamento.
Em suma, a proposta é direta em sua concepção, mas sem precedentes em sua magnitude: remunerar anualmente pela preservação florestal. O plano totaliza US$ 125 bilhões, com US$ 1 bilhão já assegurado pelo Brasil, e promete impactos sociais diretos, ao destinar parte dos recursos a comunidades locais, e econômicos, ao criar espaço para a economia verde, atrair novos investimentos e intensificar a demanda por sustentabilidade no agro.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política
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Fonte: Canal Rural.








