
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o alho foi incluído recentemente no Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), uma iniciativa que determina as regiões e épocas de plantio mais favoráveis para o cultivo no Brasil, levando em consideração as probabilidades de perdas causadas por eventos meteorológicos adversos.
As portarias com as delimitações foram publicadas pelo Ministério no Diário Oficial da União (DOU) nesta terça-feira (25). Os estudos que fundamentaram o zoneamento foram conduzidos por pesquisadores da Embrapa Hortaliças, em parceria com associações de produtores, instituições de ensino e pesquisa agropecuária.
Segundo o Ministério, o zoneamento funciona como uma ferramenta de gestão de risco climático, abrangendo regiões tropicais e subtropicais do país. A implantação fora das épocas indicadas aumenta significativamente o risco de perdas na produção de alho, alertou a pasta.
O objetivo do zoneamento, conforme informações da pasta, é identificar áreas de menor risco climático e estabelecer os melhores períodos de plantio, contribuindo para a redução de perdas e a obtenção de melhores rendimentos. O pesquisador Marcos Braga, responsável técnico pelos estudos, destacou que o Zarc avalia exclusivamente riscos agroclimáticos e presume que todas as demais necessidades da cultura serão atendidas com manejo agronômico adequado.
ALHO EM REGIÕES TROPICAIS E SUBTROPICAIS
De acordo com o Ministério, os estudos focaram nas cultivares de alho nobre, que representam a maior parte da produção nacional por seu valor comercial e padrão de qualidade. Na avaliação de Francisco Vilela, membro da equipe Zarc Alho, a divisão do zoneamento em duas regiões — tropical e subtropical — é fundamental, pois embora as variedades sejam iguais, os períodos de plantio e os sistemas de produção variam consideravelmente conforme o clima.
Principais Riscos Climáticos para o Alho
Segundo informações do Ministério, para o alho, cuja origem é o continente asiático, é imprescindível que as regiões e épocas de cultivo atendam a condições específicas de temperatura e fotoperíodo, especialmente em regiões de clima frio, para garantir o bom desenvolvimento e produtividade.
O Ministério destacou que cultivares de alho nobre, originárias do sul do Brasil, requerem mais de 13 horas diárias de luz e temperaturas entre 13°C e 18°C para formar bulbos de tamanho e valor comercial adequados. Cultivares precoces respondem a dias mais curtos, enquanto as tardias necessitam de dias mais longos para bulbificação. Braga explicou que, abaixo do mínimo de luz exigido, a planta cresce apenas vegetativamente.
Quanto às temperaturas, o alho necessita de temperaturas amenas (18°C a 20°C) na fase inicial, temperaturas mais baixas (10°C a 15°C) durante a fase vegetativa e bulbificação, e temperaturas elevadas (20°C a 25°C) na maturação. O acúmulo de horas de frio também é fundamental para a formação dos bulbos e aumento da produtividade.
Para delimitar riscos, o Ministério adotou limiares de temperatura: em condições subtropical, a temperatura média deve ser inferior a 14°C e a máxima não passar de 31°C do plantio até o início da bulbificação. Em clima tropical, a média não deve ultrapassar 12°C, com máxima de 32°C. Além disso, a altitude é considerada, sendo recomendável acima de 600 metros em regiões subtropicais e acima de 750 metros em áreas tropicais.
Vernalização do Alho
Segundo o Ministério, o alho nobre necessita do processo de vernalização, que consiste no tratamento de frio do bulbo antes do plantio, para garantir uma boa produção independentemente das condições climáticas. Francisco Vilela explicou que esse procedimento, realizado em câmaras frigoríficas a temperaturas entre 3°C e 5°C ou -1°C a -3°C, com umidade relativa de 65% a 70%, possibilita ampliar as regiões e épocas de cultivo.
Vilela acrescentou que a vernalização é obrigatória nas regiões de clima tropical, enquanto nas subtropicais pode ser dispensada, embora seja frequentemente utilizada como precaução diante das mudanças climáticas. Ele ressaltou que, em outros países, o processo é mais homogêneo, diferentemente do Brasil.
Disponibilidade de Água
Segundo informações do Ministério, o cultivo de alho em sistemas de produção sem irrigação apresenta alto risco de perdas por déficit hídrico, devido ao seu sistema radicular superficial e sensibilidade à falta de água.
O Ministério destacou que a irrigação em excesso também prejudica a produtividade, especialmente em solos com problemas de drenagem. Assim, a irrigação adequada, no momento correto, é essencial para altas produtividades e qualidade do produto.
Estimou-se que a necessidade hídrica do alho varia de 400 a 850 mm, dependendo do clima e do ciclo de produção. Como a cultura exige bastante água durante o ciclo, a maioria dos cultivos comerciais é irrigada, principalmente por sistemas de aspersão.
Braga ressaltou que, mesmo em regiões subtropicais mais frias, o cultivo dependente de chuvas é pouco viável devido à janela de plantio restrita e elevado risco de perdas. Portanto, o Ministério considerou somente sistemas irrigados para todo o Brasil.
Outros Riscos Associados ao Alho
Segundo o Ministério, o cultivo do alho não deve ser realizado em áreas com ocorrência de podridão branca (Stromatinia cepivora), pois o risco de perdas é alto e inviabiliza a colheita. O fungo, que se desenvolve entre 10°C e 20°C, pode sobreviver por longos períodos no solo, e não há controle efetivo, tornando a produção inviável nesses locais.
Consulta ao Zarc
De acordo com o Ministério, as datas de plantio para alho nobre estabelecidas pelo Zarc devem ser seguidas por produtores interessados em acessar o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e o Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR). Segundo a pasta, o zoneamento visa garantir o recebimento do valor segurado, e não criar obstáculos.
Os resultados do Zarc do alho estão disponíveis no Painel de Indicação de Riscos, no site do MAPA, nas portarias por Estado e no aplicativo Zarc Plantio Certo para Android e iOS.
Parcerias
Segundo o Ministério, o desenvolvimento do Zarc do alho contou com uma equipe multidisciplinar formada por especialistas da Embrapa Hortaliças, Embrapa Agricultura Digital, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Participaram ainda técnicos e representantes de associações de produtores de alho, como a Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa), a Associação Gaúcha de Produtores de Alho (Agapa), a Associação Mineira dos Produtores de Alho (Amipa) e a Wehrmann Agrícola.
Fonte: Ministério da Agricultura e Pecuária.








