Pauta climática ajuda a melhorar o manejo nos cafezais brasileiros, afirma Carmem Lucia Chaves de Brito
Durante a pausa de uma reunião com a bióloga responsável pela análise do cafezal da Fazenda Caxambu, em Três Pontas (MG), Carmem Lucia Chaves de Brito vem mostrando-se empolgada com o monitoramento da plantação que herdou da família. Para a produtora, que também ocupa a presidência da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), gerenciar as instabilidades do clima e conseguir avanços na qualidade do grão dependem de atitudes mais conectadas com as regras da natureza. É essa mentalidade que ela quer imprimir em seu segundo mandato como presidente da entidade.
Contratar uma bióloga foi uma das primeiras medidas que a produtora adotou em suas duas propriedades, há mais de uma década. Em 2024, como parte dos esforços para mitigar os efeitos do calor, esse tipo de decisão será a marca do comportamento de toda a cadeia de produção de café no país, garante Ucha, apelido pelo qual tornou-se conhecida no segmento ao longo dos anos.
É uma contradição, diz ela, mas a pauta climática ajuda a melhorar o manejo nos cafezais brasileiros. Isso ocorre especialmente no cultivo de grãos para venda no nicho de especiais, já que o quadro obriga os produtores a encontrar cuidados muito personalizados. São práticas que ajudam a diferenciar o grão brasileiro no mercado internacional.
Ucha presidiu a BSCA entre 2017 a 2019, quando tornou-se a primeira mulher a assumir o comando da entidade. Quatro anos depois, ela retorna para uma gestão direcionada à sustentabilidade e aos princípios ESG, a sigla em inglês que faz referência a boas práticas ambientais, sociais e de governança, e com a missão de levar essa narrativa também a compradores do grão brasileiro que têm ficado cada vez mais exigentes, como a União Europeia. Na opinião dela, o Pacto Verde, hoje em vigor, exige que a cadeia produtiva espalhada pelo país tenha um preparo substancial em escala de microrregiões, e não apenas das clássicas regiões produtoras, como o Cerrado Mineiro e o sul de Minas.
A cadeia também está atenta ao crescimento do consumo de cafés especiais na China, afirma a dirigente. Só em 2023, o país asiático comprou quase quatro milhões de sacas de 60 quilos do grão brasileiro, o que representou um salto enorme em relação ao ano anterior, quando o volume foi de apenas 390 mil sacas.Com o aumento, oBrasil ultrapassou a Etiópia no ranking de venda de café aos chineses.
“Mercados emergentes como a China estão chegando com força para consumir café brasileiro. Um dos nossos desafios é construir agendas e estratégias para falar com empresários e apresentar os grãos especiais para esses novos consumidores. O consumo de café também está crescendo substancialmente no mundo árabe. Entender como podemos nos aprocimar desses povos e de suas culturas será uma das metas deste ano”, ressalta.
Nessa aproximação com os novos parceiros, diz Ucha, a entidade vai adotar uma postura de defesa de valor agregado do café especial do Brasil. “É preciso fazer com que enxerguem nosso café de uma forma diferenciada. Com isso, os compradores pagarão um preço honesto pelo grão, e não de commodity”, avalia.
A produtora aposta em parcerias com certificadoras que sejam capazes de dar novos sentidos ao grão especial. Apesar de o Brasil não ter uma única associação representante desse nicho, ela garante que a BSCA estará mais próxima de entidades setoriais e cooperativas para facilitar negociações para a venda de lotes especiais para fora do país.
Para a cafeicultura, mudanças de cultivo dos últimos anos, como o avanço das práticas regenerativas, são cruciais para melhorar as “narrativas” sobre a produção de café de qualidade. “Não é só ter atributos maravilhosos, mas estar totalmente alinhado com as questões ambientais e sociais, com bons resultados financeiros”, completa