Bahia terá incentivo para atrair processadoras de suco de laranja
De olho nos percalços enfrentados pela citricultura paulista, o Estado da Bahia está preparando um pacote de incentivo fiscal para atrair empresas processadoras de suco de laranja que hoje estão comprando a fruta de agricultores baianos. De acordo com o secretário de agricultura do Estado, Wallison Tum, a perspectiva é replicar a experiência realizada com a cadeia do algodão.
“O produtor de algodão tem um incentivo fiscal, com isenção de ICMS, em que esse ICMS é administrado pelos próprios produtores em reuniões mensais que definem onde serão feitos os investimentos naquela região. É algo parecido o que estamos desenvolvendo com essas indústrias”, afirmou Tum, durante o evento e-agro em Salvador.
Ainda de acordo com o secretário, já há indústrias interessadas em levar seu parque fabril para o Estado, uma delas demandando uma 30 mil hectares para o plantio do fruto. Ele não revelou nomes. “A Bahia tem esses 30 mil hectares, tem clima favorável e lugares que possam receber essa indústria. Então estamos viabilizando estradas, distribuição de energia para poder absorver essas indústrias”, disse.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Bahia produziu 610 mil toneladas de laranja em 2023, alta de 6,5% em relação ao ano anterior. Dentre os polos produtores, destaca-se o litoral norte do Estado, próximo à divisa com Sergipe, onde já estão instaladas indústrias como a Maratá e a Top Fruit.
Em Rio Real, o agricultor Reginaldo Corsino do Nascimento é um dos fornecedores dessas empresas e desde 2023 viu o preço pago pela tonelada de laranja passar de R$ 900 para R$ 2.300.
“Foi através de São Paulo que a indústria daqui começou a aumentar o preço, porque a demanda era muito grande”, disse Nascimento. Hoje, 70% da sua produção é destinada ao mercado paulista.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, confirma o fenômeno. “A região norte da Bahia tem se transformado em um polo fortíssimo de citricultura. Há muitos empresários de São Paulo vindo em virtude de algumas doenças que existem no Estado”, observou, em referência ao greening, que afeta pomares paulistas.
Considerada uma zona livre de cancro cítrico e greening, doenças que têm prejudicado a produção do Sudeste, a Bahia é um dos Estados brasileiros autorizados a exportar a sua produção de citros para a Europa, principal cliente internacional do setor.
Até setembro deste ano, 113 mil toneladas de limão foram embarcadas para a Europa, o equivalente a 79,4% do total exportado pelo país no período. Só da Bahia, foram 21,45 mil toneladas.
As condições climáticas, que permitem uma produção distribuída ao longo de todo o ano, e a logística, com dois portos próximos, também favorecem a citricultura na Bahia.
“Nós temos um Estado que está bem posicionado. Podemos exportar por Salvador ou pelo porto de Pecém, no Ceará. Por isso eu diria que a indústria de suco de laranja está no nosso radar, mas nós também estamos no radar da indústria, porque eles sabem do nosso potencial”, afirmou o secretário Wallison Tum.