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Café Conilon: A Joia escondida do Espírito Santo que ganha o Mundo

Volume dos embarques do Estado nos nove primeiros meses deste ano foi 158% superior ao do mesmo intervalo de 2023, e preço médio atingiu recorde O forte aumento dos preços do café conilon no mercado internacional tem dado novo gás às exportações do Espírito Santo, o maior produtor da variedade no Brasil. Com o movimento, que começou em …

Volume dos embarques do Estado nos nove primeiros meses deste ano foi 158% superior ao do mesmo intervalo de 2023, e preço médio atingiu recorde

Produção de café conilon da cooperativa Nater Coop: exportações do Espírito Santo cresceram 158% neste ano — Foto: Divulgação

O forte aumento dos preços do café conilon no mercado internacional tem dado novo gás às exportações do Espírito Santo, o maior produtor da variedade no Brasil. Com o movimento, que começou em 2023 e prossegue neste ano, o grão ultrapassou a celulose e assumiu a liderança nos embarques do agro capixaba.

De janeiro a setembro, o Estado embarcou 5,9 milhões de sacas de café (grãos e equivalente solúvel), um volume 158% superior ao do mesmo intervalo do ano passado. Segundo o Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), as exportações nos nove primeiros meses de 2024 geraram receita de US$ 1,1 bilhão.

O preço médio dessas vendas ao exterior, de US$ 199,15 por saca, é o mais alto da história. Para efeito de comparação, em todo o ano de 2023, o Espírito Santo embarcou 4,02 milhões de sacas de conilon em grão, o que gerou receita de US$ 593,7 milhões.

Problemas na safra do Vietnã, o maior produtor global de robusta (que, assim como o conilon, é uma das variedades de café canéfora), e dificuldades logísticas no Mar Vermelho, rota do café robusta vietanamita, abriram espaço para o conilon capixaba e para produtores que nunca haviam exportado antes.

Do Espírito Santo para a Suíça

É o caso de Guilherme da Silva Oliveira, cafeicultor em Nova Venécia (ES), e cooperado da Cooabriel, a maior cooperativa de conilon do país. Ao lado do pai, Mateus Jesus Oliveira, e de cinco meeiros, ele cultiva 27 hectares de conilon. Neste ano, com o aumento dos preços da variedade e da produção de conilon especial, Guilherme fez seu primeiro embarque — o lote, pequeno, seguiu para a Suíça.

“Surgiu uma oportunidade de negócio para a marca Maritacas Coffee, que criamos há três anos. Agora, estamos estruturando uma torrefadora maior e prospectando novos clientes na Europa”, relatou.

A falta de chuvas causou uma quebra de 45% na safra. O grão ficou menor, mas o preço compensou. “O preço pago ao produtor mais do que dobrou, foi inédito. Ele está em R$ 1.340 por saca, mas chegou a R$ 1.500”, contou o produtor.

Além do crescimento da demanda, a melhora da qualidade do conilon capixaba foi outro fator que ajudou a elevar as exportações. “Há 15 anos, eu colhia uma média de 40 a 45 sacas por hectare. Agora, a média subiu para 80 a 90 sacas por hectare, e tem talhão que chega a render até 170 sacas por hectare”, afirmou. O aumento, segundo ele, deveu-se a investimentos em irrigação, em manejo de lavoura e emn clones, com o acompanhamento da cooperativa e apoio técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

Colheita acima das expectativas

Carlos Alberto Roldi Filho cultiva 40 hectares de conilon e 14 hectares de arábica em Santa Teresa (ES). Associado à Nater Coop, a maior cooperativa do segmento agro do Espírito Santo, ele diz que, neste ano, colheu mais do que esperava e que, mesmo com a quebra de 15%, teve, graças aos preços inéditos, uma boa safra.

“Deu para equilibrar as contas porque tivemos anos de problemas climáticos e preços do café baixos”, afirmou. “Espero uma safra melhor em 2025. A chuva está voltando agora devagarinho, o que é bom para não causar estragos na lavoura”.

Segundo Renata Vaz, gerente de exportação e sustentabilidade da Cooabriel, a demanda pelo conilon no mercado externo tem sido bem maior do que a oferta neste ano. Ela diz que os embarques da cooperativa poderiam ter crescido mais de 50%, o que não se concretizou porque o recebimento de café caiu 30%.

A queda foi resultado da falta de chuvas no período entre novembro de 2023 e janeiro de 2024, particularmente na fase de enchimento do grão. “Não temos café para vender. Nosso volume caiu neste ano, mas o faturamento aumentou”, disse.

Desde quando começou a exportar, em agosto de 2020, a Cooabriel embarca de 10% a 12% do café que recebe. No ano passado, a cooperativa exportou pouco mais de 100 mil sacas. Em 2024, ela abriu vários mercados novos na Europa, e Estados Unidos, México e Bélgica foram os principais importadores.

De acordo com a gerente, o plano era elevar o percentual para até 20%, mas a falta de chuvas reduziu a qualidade e o peso do grão. Além disso, a cooperativa, que vende café para grandes indústrias como 3 Corações, Melitta e Nestlé, não poderia deixar o mercado nacional desabastecido.

Quebra no Vietnã

A quebra de safra no Vietnã é o principal motor da forte valorização do café capixaba. Na bolsa de Londres, a cotação do robusta acumulou alta de 51% entre o início do ano e sexta-feira (18/10), quando chegou a US$ 4.701 por tonelada, mas, na máxima de 2024, no dia 26 de setembro, o grão fechou acima de US$ 5,5 mil.

Lavoura de café conilon do produtor Guilherme da Silva Oliveira, de Nova Venécia (ES): com a falta de chuvas, o grão ficou menor, mas o preço compensou — Foto: Divulgação
Lavoura de café conilon do produtor Guilherme da Silva Oliveira, de Nova Venécia (ES): com a falta de chuvas, o grão ficou menor, mas o preço compensou — Foto: Divulgação

Na semana passada, operadores e analistas de mercado projetaram que, na nova temporada, que começou neste mês, a produção vietnamita vai cair 10%, o que, caso se confirme, fará com que a colheita no país seja a menor em uma década. O encarecimento do robusta vietnamita aumentou a demanda pelo conilon capixaba, que fechou o mês de setembro com preço médio superior ao da saca de café arábica, observou Giliarde Cardoso, executivo estratégico de agromercado da Nater Coop.

O aumento dos preços do conilon é consequência, também, da quebra da produção local. Entre os cooperados da Nater, segundo Cardoso, a queda da produção ficou entre 30% e 50%.

A cooperativa dobrou o percentual de sacas para exportação: das 967,6 mil sacas que já recebeu, ela destinou 30% para abastecer mercados internacionais. Itália, Estados Unidos, Austrália e Oriente Médio estão entre os maiores compradores.