
O Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém do Pará, o maior evento climático da história do país e símbolo da tentativa de unir produção e preservação. Segundo o governo, 50 chefes de Estado e 168 delegações oficiais já confirmaram presença no evento.
Mas entre os países do G20, grupo que reúne as maiores economias do planeta e que responde por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa, até agora apenas três líderes confirmaram presença.
Ou seja: as potências que mais emitem gás carbônico, que mais queimam combustíveis fósseis e mais cobram metas ambientais dos outros, não vêm ao encontro que discute justamente o clima.
Nos fóruns internacionais, os líderes do G20 repetem palavras como “sustentabilidade”, “neutralidade de carbono” e “economia verde”.
Mas basta olhar os números para ver o tamanho da incoerência: O G20 é responsável por aproximadamente 80% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Apesar disso, muitos desses países continuam a depender fortemente de combustíveis fósseis e subsídios afins.
Esses mesmos países exigem que nações em desenvolvimento, como o Brasil, preservem suas florestas e limitem sua produção. Mas, na hora de dar o exemplo, desaparecem do mapa.
A COP 30 reunirá milhares de participantes, diplomatas, cientistas, empresários e movimentos sociais. Será uma das maiores conferências já realizadas no Brasil, uma chance de o Brasil mostrar ao mundo que é possível produzir com sustentabilidade.
Mas sem a presença dos grandes emissores, o encontro corre o risco de se tornar um palco sem poder de decisão. As medidas que mudam o rumo do planeta, cortes reais de emissões, suspensões de subsídios fósseis, financiamentos transformadores, dependem da presença dos chefes de Estado do G20. Sem eles, o que sobra é retórica.
Para o produtor rural brasileiro, isso não é um debate “verde” distante. É direto no bolso, no crédito, na exportação, no futuro da cadeia produtiva. Na COP 30 se discute:
- Financiamento para agricultura sustentável,
- Créditos de carbono para quem preservar ou restaurar florestas,
- Barreiras ambientais impostas às exportações agrícolas.
- Se o G20 se ausenta, o risco é claro:
- O Brasil continua sendo cobrado,
- Mas os grandes poluidores seguem impunes.
O produtor brasileiro fica no meio do fogo: obrigado a provar que é sustentável, enquanto os países ricos seguem poluindo e ditando regras.
A cobertura e o protagonismo do agro
O agronegócio brasileiro ganha visibilidade, e com razão. E nesse palco, o agronegócio ganha destaque. Isso significa que o produtor, mesmo sem estar no local, pode acompanhar o que interessa, como inovação, sustentabilidade, políticas públicas, de forma direta.
Realizar a COP 30 na Amazônia é um símbolo poderoso. É ali que o Brasil pode mostrar ao mundo que o agro brasileiro alimenta o mundo e preserva o planeta. Mas o vazio político das potências enfraquece a credibilidade do evento.
O Norte global cobra compromissos, mas não assume suas responsabilidades. O Sul global tenta participar, mas acaba pagando o preço. É assim que o sistema se desenha.
A ausência dos líderes do G20 na COP 30 é o retrato mais nítido da hipocrisia climática global. Os países que mais emitem gases de efeito estufa fogem do debate justamente quando ele acontece na floresta que simboliza o futuro do planeta.
Enquanto isso, o Brasil, com todos os seus desafios, tenta provar que é possível alimentar o mundo sem destruir o mundo. Mas sem a presença dos grandes poluidores, Belém corre o risco de se transformar em um palco de promessas vazias: bonito por fora, mas politicamente oco.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política
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Fonte: Canal Rural.








