O aumento das temperaturas e a instabilidade no regime de chuvas podem tornar cerca de 46% das doenças agrícolas mais severas no Brasil até o fim do século. O alerta vem de um estudo da Embrapa, que analisou 304 patossistemas de 32 culturas estratégicas, como arroz, soja, milho, frutas e hortaliças. Fungos, vírus e vetores terão ambiente mais favorável à sua proliferação, elevando o risco de perdas e exigindo a reformulação dos sistemas de monitoramento e controle fitossanitário do País.

Segundo a pesquisa, os fungos continuam sendo os principais causadores de doenças nas lavouras, mas vetores como pulgões, cochonilhas e moscas-brancas também devem ganhar importância. “Com o calor, o ciclo desses insetos acelera, e sua longevidade aumenta, o que gera populações maiores e mais ativas”, explica Wagner Bettiol, da Embrapa Meio Ambiente. Isso eleva o risco de infecções em culturas como banana, tomate, batata e citros.
O estudo aponta ainda que as mudanças climáticas podem afetar a eficácia dos defensivos químicos. A absorção, a mobilidade e a degradação dos produtos mudam conforme o clima, o que pode exigir mais aplicações, elevando custos e riscos ambientais. Com isso, cresce a importância dos agentes biológicos, como os biopesticidas. O Brasil é hoje o maior produtor mundial, mas os especialistas defendem a necessidade de desenvolver bioinsumos adaptados às novas condições climáticas.
Para evitar prejuízos, os pesquisadores recomendam ações imediatas, como o uso de cultivos diversificados, maior vigilância fitossanitária e adoção de modelos de previsão de surtos. “Adaptar o campo ao clima não é tarefa só dos produtores. É preciso ação coordenada entre governo, ciência e setor produtivo”, reforça Francislene Angelotti, da Embrapa Semiárido. A crise climática já impacta a agricultura — e pode se tornar uma oportunidade para modernizar o sistema de defesa vegetal do País.