Soja

Valorização do dólar dá impulso às vendas de soja e milho no país

Para 2025, a expectativa é que a moeda americana siga valorizada e continue a favorecer os exportadores A desvalorização do real em relação ao dólar nas últimas duas semanas ajudou a estimular as vendas de soja e milho do Brasil. Para 2025, a expectativa é que a moeda americana siga valorizada, tornando os preços das commodities em reais favoráveis para …

Para 2025, a expectativa é que a moeda americana siga valorizada e continue a favorecer os exportadores

Segundo a Brandalizze Consulting, 33% da safra 2024/25 de soja já foi negociada, contra uma média de 30% para o período

A desvalorização do real em relação ao dólar nas últimas duas semanas ajudou a estimular as vendas de soja e milho do Brasil. Para 2025, a expectativa é que a moeda americana siga valorizada, tornando os preços das commodities em reais favoráveis para a exportação.

Segundo a Brandalizze Consulting, 33% da safra 2024/25 de soja já foi negociada, contra uma média de 30% para o período. “O dólar favoreceu os negócios e o produtor aproveitou a oportunidade”, diz o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Em relação à safra 2023/24, 78% da soja colhida foi negociada, restando 32 milhões de toneladas para venda. “Hoje há negócios nas indústrias de R$ 150 a saca de soja. Em relação à safra nova, os valores são de R$ 144 a saca para entrega em julho de 2025. O mercado segue firme”.

No caso do milho safrinha, 86 milhões de toneladas já foram negociadas, restando cerca de 29 milhões de toneladas para venda até a colheita da safra de verão, em fevereiro. “O preço do milho também melhorou. No porto de Paranaguá está entre R$ 73 e R$ 75 a saca, versus R$ 60 a R$ 62 em outubro. No mercado interno, as indústrias estão pagando R$ 75 a saca, acima dos R$ 65 há um mês”, diz.

Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, afirma que a melhora nos preços do milho está mais ligada à demanda aquecida.

“Tem demanda das indústrias para mercado interno e procura das tradings para exportar. No meio disso, a desvalorização cambial ajuda a sustentar preços”.

Ele estima preços firmes para o milho até o primeiro semestre de 2025, devido à oferta ajustada, reflexo da produção menor na safra de verão. “Até a safrinha do ano que vem, o mercado interno de milho vai ser bem agitado”, afirma.

Estoques

Em relação à soja, o analista Luiz Fernando Roque, da Safras, considera que safra cheia e estoques elevados nos maiores países produtores (EUA, Brasil e Argentina) terão mais peso que o câmbio na formação de preços até o primeiro trimestre de 2025, quando há colheita da safra sul-americana. Ele estima a soja em Chicago em US$ 10 o bushel, com queda nos prêmios da soja no Brasil para até 50 pontos-base negativos por saca. “O preço deve cair de R$ 15 a R$ 20 no Brasil, talvez até mais”, diz Roque.

Nesse cenário, o dólar acima de R$ 5,50 deve ajudar os exportadores. O relatório Focus do Banco Central projeta um dólar em 2025 de R$ 5,43, na média, e de R$ 5,50 no fim de 2024. “Para ficar abaixo de R$ 5,40 teria que haver uma boa melhora na situação fiscal brasileira. Isso depende do governo fazer o corte de gastos que vem prometendo”, afirma o analista

Marcos Feldhaus, produtor de soja em Sinop (MT), já tinha vendido 60% da sua produção antes da disparada do dólar. Para ele, o impacto da alta recente da moeda americana na sua estratégia de comercialização foi limitado. “Há algum tempo aprendi que não se trava preço de soja em reais. Ao considerar a formação de preço [da soja], não há muito controle sobre o prêmio, então a minha conta fecha melhor em dólar. Só vende em reais quem tem uma margem muito boa”, diz.

Feldhaus acrescenta que vai esperar o comportamento do clima para decidir se avança ou não nos negócios. “Mesmo contando com estrutura de armazém, eu raramente guardo soja, pois o Brasil é muito dinâmico nas exportações, e não vale o risco guardar grão com esse cenário em que qualquer mudança no campo macro favorece a negociação”, afirma.

Márcio Sechele, produtor de soja em Mormaço (RS), plantou 20% da área para o ciclo 2024/25, mas ainda não iniciou as vendas da produção futura. O agricultor prevê chegar a um ritmo de negociação na casa dos 10% da produção no fim do mês, quando espera concluir a semeadura da soja. Até lá, ele deve prezar pela cautela quando o assunto é trava de preços.

“Venho há anos com essa postura [de venda], pensando na minha gestão de risco. Ano passado foi complicado pelo excesso de chuva e hoje não sabemos como será o clima daqui até a colheita. Como tenho compromisso de entrega física, não quero ficar vulnerável a questões de mercado”, afirma.

EUA x China

No cenário externo, as atenções se voltam para uma possível nova guerra comercial entre EUA e China. O presidente eleito Donald Trump prometeu em campanha taxar produtos importados. Em sua primeira gestão, o republicano elevou tarifas para produtos chineses, o que favoreceu as exportações brasileiras de soja para a China.

“Naquela época, o Brasil exportou de 10 milhões a 15 milhões de toneladas a mais de soja para a China”, diz Roque. A Safras estima exportação de 107 milhões de toneladas de soja na safra 2024/25, podendo se maior se houver uma nova guerra comercial.

Para o analista Luiz Carlos Pacheco, da TF Consultoria, os EUA devem voltar a impor sanções aos produtos chineses, favorecendo os embarques brasileiros para o Oriente. “Isso se o Brasil também não sofrer sanções porque a agricultura brasileira é concorrente da americana”, pondera Pacheco.