O dólar à vista fechou a terça-feira em leve baixa ante o real, acompanhando o recuo da moeda norte-americana ante outras divisas no exterior, em meio às apostas de que o Federal Reserve começará a cortar juros em setembro, enquanto no Brasil ruídos em torno de uma entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxeram volatilidade aos negócios.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,4293 reais na venda, em queda de 0,28%. Em julho, a divisa acumula baixa de 2,89%.
Às 17h03, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,37%, a 5,4415 reais na venda.
Pela manhã o dólar sustentou baixas ante o real e ante outras divisas de países exportadores de commodities e emergentes, com investidores elevando as apostas de que o Federal Reserve começará a cortar juros já em setembro.
Isso abriu espaço para o dólar à vista atingir a cotação mínima de 5,4058 reais (-0,72%) às 10h47.
Perto das 12h20, no entanto, começaram a circular pelas mesas de operação informações de que Lula, em entrevista à TV Record gravada pela manhã, teria dito que será preciso convencê-lo de que será mesmo necessário contingenciar entre 15 bilhões e 20 bilhões de reais do Orçamento deste ano. A íntegra da entrevista está programada para as 19h55.
Os comentários de Lula — que circularam sem o contexto da pergunta e sem os detalhes da resposta completa — estressaram os mercados e fizeram o dólar virar do negativo para o positivo ante o real. Na renda fixa, as taxas de alguns DIs (Depósitos Interfinanceiros) zeraram as perdas.
Operador ouvido pela Reuters pontuou que a fala de Lula, sugerindo pouco comprometimento com o ajuste fiscal, foi mal recebida nas mesas.
Assim, na máxima do dia, às 13h41, o dólar à vista foi cotado a 5,4641 reais (+0,35%).
Após as 14h, a Record publicou um trecho em vídeo da entrevista de Lula, no qual o presidente é questionado sobre se está disposto a contingenciar o valor de 15 bilhões a 20 bilhões de reais para equilibrar as contas públicas.
“Primeiro eu tenho que estar convencido se há ou não a necessidade de cortar”, disse o presidente. “Tenho uma divergência histórica e uma divergência de conceito com o pessoal do mercado. É que nem tudo que eles tratam como gasto eu trato como gasto”, acrescentou.
O trecho do vídeo, apesar de confirmar a ideia de que Lula precisaria ser “convencido” do contingenciamento, esclareceu o contexto do comentário, reduzindo os ruídos de mais cedo. O dólar voltou a oscilar em queda ante o real, enquanto as taxas dos DIs retomaram as baixas, ainda que o mercado mantivesse a expectativa pela divulgação da íntegra da entrevista de Lula.
Questionado sobre a fala de Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a declaração do presidente sobre o governo não ser obrigado a cumprir a meta fiscal está fora de contexto.
Na reta final dos negócios no câmbio, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o mercado de trabalho aquecido indica um processo de recuo mais lento da inflação, em um cenário que, somado a fatores externos, fez a autarquia migrar para um período de “um pouco mais de cautela”.
Em evento promovido pelo Sicredi em Anápolis (GO), Galípolo reafirmou que a desancoragem de expectativas do mercado para a inflação brasileira elevou a preocupação do BC, ressaltando que a previsão de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos gera elevação na expectativa da taxa de juros terminal em países emergentes e fortalece o dólar.
Os comentários de Galípolo não fizeram preço no câmbio antes do fechamento do segmento à vista.
No exterior, às 17h09, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,03%, a 104,210. O dólar também cedia ante divisas pares do real como o rand sul-africano e o peso mexicano.