Fapcen na COP30: inclusão indígena e agricultura regenerativa em pauta

Fapcen na COP30 destaca agro regenerativo e inclusão indígena. Brasil mostra capacidade de produzir alimentos em harmonia com a floresta.

Gisela Introvini, superintendente da Fapcen
Foto: Canal Rural

A superintendente da Fundação de Apoio ao Corredor de Exportação Norte (Fapcen), Gisela Introvini, marcou presença na COP30 com uma mensagem clara: o agronegócio brasileiro deve ser reconhecido como um pilar essencial na produção de alimentos, na conservação ambiental e na promoção da inclusão social, com foco especial em povos tradicionais e comunidades em situação de vulnerabilidade. Em sua participação, ela ressaltou o papel crucial da agricultura para o avanço do país e para a segurança alimentar em escala global.

Gisela enfatizou que a COP30 é a oportunidade perfeita para “jogar a conchinha no mar”, apresentando ao mundo a autêntica realidade do campo brasileiro – uma agricultura multifacetada, profissional, inovadora e presente em todo o território nacional, do extremo sul à vastidão amazônica.

Na visão dela, iniciativas como a AgriZone e os centros de tecnologia da Embrapa estão demonstrando ao mundo o maior trunfo do Brasil: a capacidade de gerar alimentos em harmonia com a preservação da floresta.

Diálogo com povos indígenas e justiça social

A superintendente compartilhou experiências da Fapcen em atividades com aldeias indígenas no Maranhão. Em colaboração com a Embrapa Amazônia Oriental e Meio-Norte, a fundação introduziu cultivares de mandioca, feijão-caupi, girassol, gergelim e novas variedades de capins em comunidades tradicionais, promovendo dias de campo e intercâmbio de conhecimentos.

De acordo com Gisela, o objetivo principal é elevar a produtividade agrícola ao mesmo tempo em que se respeita as tradições indígenas, valorizando seus modos de vida e fortalecendo a segurança alimentar local. Ela relatou ter encontrado comunidades lidando com desafios como autismo sem suporte adequado, alcoolismo, o êxodo de jovens e até mesmo casos de suicídio, decorrentes da falta de oportunidades.

Para Gisela, o agronegócio tem uma função social de extrema urgência: “Eles anseiam por capacitação, treinamento e tecnologia. Precisam aprender a cultivar para sustentar suas famílias. É o agro alcançando onde o poder público ainda não chegou”.

Duas décadas e meia de progresso no Maranhão e na região Matopiba

Ao revisitar seus 25 anos de atuação na região, Gisela destacou o impacto significativo da expansão da cultura da soja no Maranhão, Tocantins e Piauí. A disseminação de tecnologias, testes de vigor, mecanização avançada, prática de rotação de culturas, a possibilidade de três safras anuais e o manejo de palhada redefiniram o panorama produtivo e contribuíram para a redução das temperaturas superficiais do solo.

A partir de 2012, a Fapcen assumiu a coordenação de importantes iniciativas de certificação, como a RTRS, introduzindo na região uma abordagem inovadora em gestão rural, com foco na inclusão de comunidades e na adoção de práticas socioambientais responsáveis. Atualmente, uma parcela considerável da produção de soja do Maranhão e um número crescente de áreas no Piauí já operam com certificações internacionais reconhecidas.

Ela também mencionou projetos com forte impacto social, como o apoio a crianças com necessidades especiais em Bertolínia (PI), iniciativa conduzida por produtores certificados, que beneficiou mais de 28 mil pessoas.

Amazônia, Cerrado e o chamado à ação climática

Gisela ficou admirada com a exibição das pesquisas da Embrapa na COP30, destacando a força dos estudos em feijão-caupi, sistemas agroflorestais e as propostas de agricultura regenerativa. Na sua avaliação, o Brasil está demonstrando ao mundo que é viável produzir alimentos em coexistência com a floresta em pé, e que eventos como a COP sediada no Pará são essenciais para a reconfiguração da imagem do país no cenário global.

Contudo, ela emite um alerta sobre a aceleração das mudanças climáticas. Citando as projeções do renomado cientista Carlos Nobre, Gisela lembra que um aumento de 2 °C na temperatura global pode comprometer a produtividade de lavouras em extensas áreas de commodities, caso não haja cobertura do solo, manejo adequado de palhada e práticas de agricultura regenerativa: “Solos expostos não terão resiliência. Sem chuva, a produção será inviabilizada”.

Gisela também defendeu que uma futura edição da COP realizada no Brasil deveria ter como sede o Cerrado – “a bola da vez”, em suas palavras – devido ao seu papel estratégico na segurança alimentar e à importância ambiental do bioma.

Engajamento contínuo e planos futuros

Durante a COP30, a Fapcen tem participado ativamente de fóruns dedicados à certificação, agricultura regenerativa e financiamento sustentável. Gisela também tem marcado presença em debates com a Universidade Federal do Pará e em visitas técnicas, incluindo o maior ensaio demonstrativo de mandioca do estado.

Antes de finalizar, ela reforça que o Brasil escolheu o local ideal para apresentar sua força no cenário agrícola mundial. “Este é o portal para a Amazônia e o ponto de partida para a produção de alimentos. Aqui, respiramos agricultura e floresta em perfeita sintonia”.

Fonte: Canal Rural.