Produto comum na Índia ainda é inédito no Brasil; produção inicial do Laticínios Bom Destino será equivalente a 100 mil litros
A Laticínios Bom Destino, especializada em produtos lácteos de búfalas, começa a oferecer no mercado brasileiro a partir de julho leite de búfala em pó. É a primeira iniciativa do tipo no país.
De acordo com dados da FAO, braço de agricultura e alimentação da ONU, o leite de búfala corresponde a 15% da produção de lácteos global; 81% são leite de vaca e 4% de cabra, ovelha e camelo. O leite em pó de búfala é mais comum na Índia.
A produção inicial será equivalente a 100 mil litros de leite ao ano. A matéria-prima será captada pela Bom Destino e passará por processo de liofilização (tecnologia de secagem) em um fabricante parceiro.
“A instalação de equipamentos para produção do leite em pó na nossa fábrica vai depender de como o mercado vai receber o produto. Mas acredito que vai ter boa aceitação”, afirma João Batista Sousa, sócio da Laticínios Bom Destino. Ele não informou o preço de venda do produto. No varejo, o leite em pó de vaca tipo A2 é encontrado a preços por volta de R$ 35 a embalagem de 380 gramas.
A expectativa da companhia é atrair principalmente o público que já consome o leite de vaca tipo A2, que é mais facilmente digerido pelo corpo humano e é procurado por pessoas com intolerância à proteína beta-caseína A1. No caso do leite de búfala, todas as fêmeas produzem o leite A2A2, que só tem a proteína beta-caseína A2.
A Bom Destino é considerada a maior empresa do segmento de produtos lácteos de búfala, com uma captação média de 72,5 mil litros por dia, de acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB). Foi fundada há 35 anos pelos irmãos Marcelo Vargas Leão e João Batista Sousa e tem sede em Morro do Ferro, distrito de Oliveira, no centro-oeste de Minas Gerais.
Atualmente, a Bom Destino tem rebanho de 5 mil animais, sendo 1,7 mil búfalas em lactação, além de ter 700 fêmeas em lactação com parceiros. A produção própria de leite da empresa alcança 12,5 mil litros por dia. Outros 60 mil litros são captados diariamente com cerca de 120 produtores parceiros.
Segundo a companhia, a produção de laticínios gira em torno de 300 toneladas por mês. São 48 tipos de produtos a partir de leite de búfala, entre queijos, burratas, requeijão, creme de leite, coalhada, iogurtes, manteiga, doce de leite e produtos zero lactose.
Sousa conta que ele e o irmão começaram com produção artesanal de muçarela de leite de vaca. Em 2001, após receberem uma demanda por muçarela de búfala, decidiram investir nesse rebanho. “Em dois anos, toda a produção já era 100% de búfalas. Foi uma aposta que deu muito certo”, afirma.
A Bom Destino prevê para este ano crescimento em vendas de 25% em relação a 2023, puxado pelos carros-chefes — queijo em formato bolinha e burrata. Toda a produção possui Selo de Pureza 100% Búfalo da ABCB, que garante que não há mistura de outro tipo de leite nos produtos.
A companhia mineira também aposta na exportação e começou a vender para os Estados Unidos. Em maio, enviou 1,8 tonelada de produtos para uma rede de supermercados em Miami. Segundo Sousa, o laticínio também vai se credenciar para exportar ao Chile.
De acordo com dados da ABCB, a produção do setor em 2023 foi de 15 milhões de litros de leite e o volume deve atingir 17,5 milhões este ano, considerando os 12 laticínios associados. “Praticamente todo o leite de búfala produzido no Brasil é destinado à produção de derivados, como queijos, requeijão, creme de leite”, afirma Caio Rossato, presidente da ABCB, e dono do Laticínio Família Rossato, sediado em Pilar do Sul (SP).
Segundo ele, a búfala produz em média 8 litros de leite por dia, volume bem inferior ao das vacas, mas seu leite tem percentuais maiores de sólidos e proteínas. Um quilo de queijo de búfala é feito com cinco litros de leite. No caso do queijo de vaca, são necessários de sete a dez litros.
O Brasil como um todo produz em torno de 100 milhões de litros de leite de búfala, estima a ABCB. São cerca de 200 laticínios e 17 mil criadores de búfalos no território nacional. O rebanho é de pouco mais de 2 milhões de animais, o equivalente a 1% do rebanho bovino no Brasil.