
A COP30, sediada em Belém, iniciou com metas audaciosas, discursos fervorosos e um cenário de ceticismo. A participação de líderes mundiais, pesquisadores e ativistas sublinha a magnitude do evento, mas as divergências entre nações desenvolvidas e emergentes evidenciam que a batalha contra o aquecimento global ainda oscila entre palavras e ações.
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, foi incisivo: permitir que o planeta ultrapasse o limite de 1,5 °C seria um “fracasso moral”. Por sua vez, o Presidente Lula apelou para que as disputas geopolíticas não ofusquem o fundamental: a proteção climática e a garantia de desenvolvimento sustentável, com ênfase especial na Amazônia. Embora o discurso ressoe internacionalmente, o grande desafio reside em traduzir a retórica em resultados tangíveis.
Paralelamente, a insatisfação entre os negociadores aumenta. Países em desenvolvimento exigem mais recursos e compromissos financeiros das nações ricas. O fundo climático prometido em COPs passadas está longe de atingir os valores necessários, com estimativas apontando para algo em torno de US$ 1,3 trilhão anuais para mitigar os impactos da crise ambiental.
Um dos anúncios de maior relevância partiu do Brasil: o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que já alcançou US$ 5,58 bilhões em compromissos financeiros. A meta é remuneração da conservação das florestas tropicais, transformando a biodiversidade em um ativo econômico global, promovendo a união entre preservação e desenvolvimento sustentável.
Belém, um local de grande simbolismo por estar no coração da Amazônia, está vivenciando dias intensos. A logística, a infraestrutura e os custos da conferência geraram críticas, mas também trouxeram o debate para o local onde ele é mais pertinente: o território que representa o maior patrimônio ambiental do planeta.
Para o Brasil, a COP 30 representa uma oportunidade única. O país tem a chance de demonstrar ao mundo que produção e preservação não são antagônicas. O agronegócio, em particular, tem muito a ganhar se souber se posicionar como parte da solução, investindo em tecnologias limpas, manejo sustentável e rastreabilidade. O setor agropecuário brasileiro já é competitivo; agora, precisa provar, e comprovará, que também é verde.
Contudo, paira um risco: caso a COP 30 se encerre sem progressos concretos, o Brasil pode ser percebido como um anfitrião de boas intenções com poucos resultados. O desafio é monumental e o tempo, escasso.
Ao final, o que está em jogo transcende o futuro da Amazônia, englobando a credibilidade de um modelo que busca harmonizar crescimento econômico com o equilíbrio climático. O mundo observa o Brasil, na expectativa de que o país demonstre ser possível alimentar o planeta sem comprometer sua integridade.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política
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Fonte: Canal Rural.








