
Fazendas de alta performance não admitem mais soja e milho abaixo de 5 mil e 10 mil quilos por hectare, respectivamente. Ficou para trás o tempo em que o grande diferencial da agricultura brasileira frente aos Estados Unidos era a tecnologia e a produtividade. Em condições de clima e manejo adequados, já não são raras as lavouras no Brasil com rendimento similar ou até superior aos campos norte-americanos. Ou seja, o desafio se tornou meta.
Em uma série temporal de 20 anos, é possível demonstrar com clareza esse incremento. Entre os ciclos 2014/15 e 2024/25, a produção nacional saltou de 119 milhões para quase 310 milhões de toneladas, um crescimento de 160%, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nesse mesmo período, a área cultivada passou de 47 milhões para 81 milhões de hectares, uma variação de 72%. O volume produzido aumentou mais que o dobro da extensão cultivada, uma relação que evidencia em números o avanço tecnológico no campo.
Mais do que tecnologia, porém, é fundamental ressaltar que praticamos agricultura com inovação e sustentabilidade. As boas práticas adotadas no campo posicionam o agronegócio brasileiro como a principal atividade econômica com sequestro de carbono neutro ou positivo, demonstrando uma capacidade ímpar de compensar as emissões de CO2. E isso não é uma novidade. Basta observar o sistema de plantio direto, uma técnica de cultivo sustentável com mais de 50 anos de história no Brasil.
Contudo, o avanço da produção só se concretiza em conjunto com a demanda, colocando o mercado como um fator determinante nessa equação. Uma agricultura mais eficiente e, principalmente, mais competitiva está intrinsecamente ligada ao consumo, tanto doméstico quanto internacional. É um elo da cadeia onde também estamos mais bem preparados. Além do clima, já conseguimos mitigar com maior efetividade possíveis efeitos nocivos da economia, política e geopolítica que impactam mercados e produção.
Nas últimas duas décadas, nos transformamos no maior produtor (170 milhões de toneladas) e exportador (100 milhões de toneladas) mundial de soja. Nossa produção de milho ultrapassou os 100 milhões de toneladas, e nos consolidamos como o maior exportador mundial desse cereal. Paralelamente, também estamos fazendo a nossa lição de casa, agregando valor à produção primária com índices de processamento nunca antes vistos.
Criamos demanda interna, com maior liquidez e uma forte pegada ambiental. Soja e milho se transformam em carne e combustível, energia verde e renovável. Pelo menos 50 milhões de toneladas de soja e milho se convertem em biodiesel e etanol no Brasil. Isso se traduz em mais emprego e renda, tanto dentro quanto fora da porteira. Representa maior valor agregado ao Produto Interno Bruto (PIB) proveniente do agro, setor responsável por quase um terço das riquezas econômicas geradas no país.
Hoje, em plena implantação de um novo ciclo, a safra 2025/26, o setor enfrenta novamente uma série de dificuldades e incertezas. Crédito, clima, mercado… Mas sempre foi assim. Com maior ou menor intensidade, faz parte da rotina de quem produz. Por isso, a importância desta reflexão sobre o potencial, sobre onde chegamos e sobre o caminho a percorrer.
Não podemos menosprezar nem negligenciar as dificuldades de um mercado globalizado que impactam imensamente o agronegócio no Brasil e no mundo. Assim como não podemos ignorar nossa capacidade de superação e de produção. O passado recente demonstra que as oportunidades surgem na medida em que os desafios crescem. E se tecnologia e mercado são os diferenciais, o agricultor brasileiro não fica atrás de ninguém.
Para concluir esta reflexão, especialmente sobre potencial, vale lembrar que a produção agrícola nos Estados Unidos está estagnada em área cultivada, em queda e limitada abaixo dos 100 milhões de hectares, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Enquanto, no Brasil, o cultivo rompe os 80 milhões de hectares, impulsionado por outra prática sustentável: a recuperação de áreas degradadas. Sem a necessidade de derrubar uma árvore sequer, surge um horizonte de potencial adicional de 30 milhões de hectares. Como e em qual ritmo isso acontecerá, será o mercado quem definirá.
* Leori Hermann é CEO da Unity Agro
Fonte: Canal Rural.








