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Preços dos grãos vão ditar rumo do setor de máquinas nos EUA

Presidente mundial da Case IH acredita que há demanda; para associação de produtores, custos também afetam apetite por investimentos Um efeito colateral da queda nos preços das commodities neste ano foi a redução no apetite dos produtores rurais para investir. Seja no Brasil ou nos Estados Unidos, o cenário é o mesmo. Assim, no próximo …

Presidente mundial da Case IH acredita que há demanda; para associação de produtores, custos também afetam apetite por investimentos

No mercado americano, avanço deve acontecer somente com busca por mais tecnologia, pois quase não há áreas para expansão da safra — Foto: Case IH/Divulgação

Um efeito colateral da queda nos preços das commodities neste ano foi a redução no apetite dos produtores rurais para investir. Seja no Brasil ou nos Estados Unidos, o cenário é o mesmo. Assim, no próximo ano, a eventual retomada na demanda por tratores e colheitadeiras vai depender da recuperação das cotações dos grãos — algo ainda incerto.

“Veremos o que acontece com os preços [das commodities agrícolas]. Há um forte desejo dos produtores de obter tecnologia e ganhar produtividade, eles querem investir. Só precisam ter a capacidade, e isso requer algum tipo de fortalecimento na economia agrícola em geral”, afirmou o presidente mundial da Case IH, Scott Harris.

O executivo deu entrevista à Globo Rural durante visita a uma das unidades mais antigas da companhia de máquinas agrícolas do grupo CNH, em Racine, no Estado de Wisconsin. Para Harris, a América Latina continuará sendo o principal polo de crescimento para o setor de máquinas, pois é onde ainda existem áreas de plantio passíveis de expansão.

“Estive na Argentina, e o mercado lá não está se deteriorando. É uma prova de resiliência, e estamos realmente crescendo na Argentina neste ano”, disse o executivo, sem mencionar números referentes ao crescimento.

Scott Harris, presidente mundial da Case IH — Foto: Divulgação/CNH

Guardadas as devidas diferenças na dinâmica dos mercados, o presidente da Case IH acredita que, em 2025, há potencial maior para incremento da demanda por máquinas na Argentina, enquanto no Brasil a tendência é de estagnação.

A estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) é que o faturamento do setor de máquinas agrícolas do país deve cair 25% neste ano, para R$ 56 bilhões, mas tende a avançar 8,2% no ano que vem.

No mercado americano, eventuais avanços na demanda estariam pautados somente em busca por tecnologias que melhorem os rendimentos das lavouras, uma vez que quase não há áreas disponíveis para expansão de plantio.

Nos EUA, os números também são negativos. No acumulado do ano até setembro, a comercialização de tratores caiu 13,4%, enquanto a venda de colheitadeiras diminuiu 21,5% no comparativo anual, conforme dados da Associação de Fabricantes de Equipamentos (AEM, na sigla em inglês).

Impacto econômico

O vice-presidente sênior da AEM, Curt Blades, afirmou à Globo Rural, por meio de nota, que houve aumento na demanda por tratores para alguns tipos de cultivos, mas, no geral, as vendas registraram recuo. No caso das colheitadeiras, a redução de 2024 acontece após avanços obtidos no ano anterior, e a queda atual reflete o cenário de preços das commodities agrícolas.

Na bolsa de Chicago, as cotações do milho caíram 15% em doze meses até setembro. A soja teve um recuo ainda mais intenso, de 23%, no mesmo período.

Questionado sobre a expectativa para o próximo ano, Blades disse que “a AEM não fornece projeções sobre as vendas de tratores e colheitadeiras, no entanto, o mercado de bens de capital tende a acompanhar a saúde geral da economia agrícola dos EUA“.

Diante desse cenário, Kurt Coffey, vice-presidente da Case IH para a América do Norte, avalia que o ano de 2025 é mais preocupante para o mercado americano do que o atual.

“Há grãos que foram comercializados ou pré-comercializados a preços mais altos do que os das commodities que estamos vendo hoje”, afirmou o executivo sobre 2024, acrescentando que isso ajuda o caixa dos agricultores, algo que não deve se repetir no ano que vem.

“Estou mais preocupado com o futuro, quando chegar 2025. Ainda temos preços de commodities difíceis hoje, e as pessoas não estão tão animadas para investir, como em 2022 e 2023”, completou o vice-presidente.

Coffey afirmou, no entanto, que antes de traçar qualquer tipo de projeção sobre os Estados Unidos, será preciso definir como ficará a Farm Bill, lei agrícola do país, cuja vigência se encerrou em setembro de 2024. “Precisamos de uma lei agrícola em vigor que dê cobertura para os fazendeiros”, enfatizou.

Os americanos irão às urnas em novembro escolher entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris para ocupar a Presidência e o vencedor deve influenciar as próximas leis a serem discutidas. Atualmente, a nova Farm Bill está em pauta no Congresso do país.

Cautela

Para Evan Hultine, vice-presidente da Illinois Farm Bureau, federação agrícola do Estado, os agricultores continuarão com o pé no freio na hora de investir, não somente em função dos preços dos grãos, mas pelo patamar de custos de produção que deixou grande parte do setor com margens negativas nesta safra.

Segundo ele, há sinais de que os preços de insumos ficarão mais alto em 2025. “Então, não acredito que os agricultores farão melhorias de equipamento ou capital que não sejam absolutamente necessárias em 2025”, avaliou.