Sustentabilidade

Produção regenerativa vira negócio no clã Biagi

Vinícius Biagi Antonelli, de família ligada à cana, eleva aposta em agricultura sustentável Vinícius Biagi Antonelli tem agro no sobrenome, mas resolveu trilhar um caminho diferente daquele que virou uma espécie de sinônimo de sua família. Neto de Maurílio Biagi, ex-controlador da Usina Santa Elisa, um dos nomes mais importantes da indústria brasileira de açúcar …

Vinícius Biagi Antonelli, de família ligada à cana, eleva aposta em agricultura sustentável

Agricultura regenerativa é aposta da pecuária de leite para produzir mais sustentável — Foto: Globo Rural

Vinícius Biagi Antonelli tem agro no sobrenome, mas resolveu trilhar um caminho diferente daquele que virou uma espécie de sinônimo de sua família. Neto de Maurílio Biagi, ex-controlador da Usina Santa Elisa, um dos nomes mais importantes da indústria brasileira de açúcar e etanol, o empresário decidiu mergulhar no mundo da agricultura regenerativa.

Sua inspiração é o agricultor suíço Ernst Göstch, o papa da agricultura “sintrópica”, um sistema de cultivo que busca replicar a dinâmica de ecossistemas “virgens”, em que não houve interferência humana. Foi com essa ideia que Vinícius e o casal de investidores Romanna Remor e Gileno Marcelino criaram a Viva Regenera há quatro anos, uma iniciativa que ganha novo impulso agora que a empresa recebeu o sinal verde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar o produto que é sua principal aposta.

O item em questão é o chá de guayusa, uma planta com propriedades medicinais encontrada na floresta amazônica — “parente” da erva-mate, ela tem mais cafeína do que o próprio café. “Nosso objetivo é resgatar o conhecimento tradicional dos povos indígenas, que utilizam ervas de infusões há séculos”, diz o empresário.

A empresa instalou uma fábrica na fazenda Painal, em Cravinhos (SP), e, atualmente, comercializa mais de 20 itens, feitos à base de alimentos como gengibre, cúrcuma, cacau e maca peruana. Para a fabricação, a Viva Regenera utiliza produtos que ela cultiva em quatro propriedades próprias no Estado de São Paulo ou compra de pequenos produtores de Amazonas, Mato Grosso e Pará.

Vinícius pôs os pés na agricultura sintrópica e regenerativa depois de assistir a vídeos de Ernst Göstch, agricultor que segue a filosofia de “conectar saúde do solo e bem-estar humano”. A proposta do suíço não segue fórmulas prontas, e, seja como for, Vinícius diz ter misturado bem os ensinamentos de Göstch com a influência que sua família teve sobre ele.

Desde o início de suas operações, a Viva Regenera já recebeu R$ 3,5 milhões em investimentos. Desse total, Vinícius fez um aporte de R$ 1,8 milhão por meio de sua holding, a Carbisa, e R$ 1,7 milhão saíram da Angatu Venture, holding que pertence aos três sócios da empresa.

Neste ano, a companhia deverá faturar R$ 3 milhões, segundo as projeções do trio. O montante ainda é inferior aos investimentos que fizeram no negócio, mas, para 2025, eles preveem receita de R$ 5 milhões. Esse crescimento já será reflexo dos desembolsos que os sócios fizeram para quintuplicar a capacidade produtiva da estrutura da fazenda Painal.

A escolha do local para a instalação da fábrica, ainda no início do projeto, não foi casual: a fazenda, que hoje dedica-se à produção regenerativa e é adornada por paisagismo agroflorestal, já foi um antigo cultivo de cana-de-açúcar. “A fábrica e seu entorno simbolizam a mudança que a empresa busca promover no setor agrícola e de alimentos. Queremos aliar a produção sustentável e a responsabilidade socioambiental”, diz Vinícius.

Na unidade, são processados alimentos de produção própria, como cúrcuma, gengibre, maca peruana e cacau. A empresa também produz misturas em pó para preparação de bebidas (ou “shots”) à base de itens cultivados por parceiros, como cogumelos, babaçu, capim-limão, beterraba, puxuri e guaraná. Com a ampliação da fábrica, o portfólio deve ganhar uma nova marca de chás, à base de guayusa.

A aprovação da Anvisa permite à empresa comercializar a guayusa para o preparo de infusões no Brasil, o que abre caminho para o desenvolvimento de outros produtos que tenham a erva como matéria-prima. A fábrica também será responsável pelo envase de alimentos como o Guaraná de Maués e as farinhas da linha Culinária Brasileiríssima. Para além disso, no primeiro semestre de 2025, a empresa quer começar a produzir duas novas linhas de alimentos que exigem cozinha industrial.

“Construímos uma marca que nos permite honrar o legado valoroso da família Biagi para a agricultura brasileira. Ela representa a materialização da nossa missão e dos nossos valores, com a produção de alimentos nutritivos e de alta qualidade, que contribuem para a saúde das pessoas e do planeta”, diz a sócia Romanna Remor.

A holding Angatu Venture tem sob seu guarda-chuva outros negócios além da Viva. Uma das apostas é a plataforma digital Viva Floresta, um marketplace dedicado a produtos naturais e orgânicos que oferece produtos próprios e de outras 50 marcas.

A Regenera Venture, outro braço da holding, investe, acelera e conduz negócios em estágio inicial. “Iniciativas inovadoras nos interessam. Optamos por ajudar a desenvolver negócios que estejam alinhados com os ideais de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, ao mesmo em que promovam a saúde”, afirma Vinícius.

As demais empresas sob a Angatu Venture são Viva Plantopia e Viva Floresta (que comercializam cosméticos e produtos alimentícios de base natural), Cookoa Chocolates, Regenera Global (distribuidora de produtos naturais), Selva & Paz (alimentos agroflorestais orgânicos) e Agroforestry Carbon, startup que desenvolve projetos de agrofloresta para compensação voluntária de carbono.