Alguns agricultores do Estado optaram por investir no milho
O Paraná pode colher a maior safra de soja da história se a estimativa de produção de 22,4 milhões de toneladas no ciclo 2024/25 se confirmar. No entanto, apesar das condições climáticas mais favoráveis que em outras regiões do Brasil, os sojicultores do Estado seguem cautelosos em relação aos resultados. Na Fazenda Pousada dos Gaúchos, em Tibagi (PR), o produtor Ivo Carlos diminuiu a área de soja e aumentou a de milho.
“A soja é muito instável. Com estoque muito alto, as guerras e a China em recessão e com instabilidade política, optamos por reduzir a área de soja. Já para o milho, vejo boas perspectivas”, diz Carlos, sem detalhar o tamanho das áreas. Na última semana, ele estava com 5% da área de soja plantada, ainda sem emergir e quase 40% da área de milho semeada.
Ele considera difícil apontar estimativas para a produção neste momento inicial da safra: “Temos quase 150 dias pela frente, até colher, e não sabemos como estarão as condições climáticas”.
Em Toledo, no oeste do Paraná, o produtor Arnildo Risse, está com 70% da área de 80 hectares de soja plantada. A chuva amena da semana passada trouxe alívio depois de dias de calor intenso na região, com temperatura média de 38º C: “A planta não emergiu, principalmente nas cabeceiras. A gente estava no sufoco, muito preocupado com a possibilidade de dar replantio”.
Segundo ele, a oleaginosa se desenvolveu bem nos primeiros talhões semeados, porém, nos seguintes foi prejudicada pelo clima. Com isso, o produtor espera perdas de 10%. “Vamos ter uma safra boa, se tivermos o tempo alinhado. Mas já podemos tirar o pé do acelerador”, diz.
Desafios como clima e mercado, porém, fazem com que o produtor fique na retaguarda — conforme ele mesmo diz —, principalmente considerando o desempenho de safras anteriores.
Risse lembra que, nos últimos quatro anos, o resultado das safras não foi favorável. “Quando o grão atingiu o melhor preço, com média chegando a R$ 200 a saca, colhemos entre 10 e 25 sacas por hectare (frente à média de 55 sacas/hectare). Foi uma frustração enorme. Isso nos deixa bem receosos e trava investimentos”, afirma.
Boas condições
O plantio da soja atingiu 41% da área recorde de 5,8 milhões de hectares previstos para a safra 2024/25 no Paraná, conforme aponta boletim conjuntural do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab). Se confirmada a produção de 22,4 milhões de toneladas, será 21% maior que a safra anterior, que foi de 18,5 milhões. E pode superar a safra 2022/23, que teve uma produção de 22.394,5 milhões – arredondada para 22,4 milhões -, a maior da história. “Provavelmente vai ser recorde em termos de produção também”, acredita Edmar Gervásio, analista do Deral responsável pelas culturas de soja e milho.
O Deral informa, em publicação desta terça-feira (15/10) sobre as condições de tempo e cultivo, que alguns produtores aproveitaram para plantar soja antes das chuvas e o plantio deverá aumentar ainda mais após as precipitações registradas na semana anterior. “Há finalmente uma diminuição da apreensão entre os sojicultores com a volta da umidade ao solo”, aponta o documento.
A avaliação dos analistas é que as lavouras de soja estão em boas condições de desenvolvimento e, segundo Gervásio, as chuvas pontuais, como as que ocorreram nos últimos dias no Estado, são benéficas tanto para as plantas que já estavam na lavoura quanto para a abertura de uma nova janela de plantio. Normalmente, a dinâmica de semeadura começa pela região Oeste e segue para as demais regiões. Na região de Toledo, por exemplo, o plantio já chega a quase 100% da área.
Com previsões meteorológicas que indicam mais períodos de estiagem para os próximos meses – etapa de desenvolvimento da oleaginosa -, a expectativa é de que a safra tenha um bom andamento, com um clima já esperado para o ciclo.
Mercado
Quanto ao preço, Gervásio avalia que o custo de produção está menor e a remuneração ao produtor maior nesta safra, em comparação com a anterior. No mês de agosto deste ano, o custo de produção por hectare ficou em média na casa de R$ 3.208 contra R$ 3.537 em agosto de 2023 – uma redução de 10%. Já o preço médio de comercialização da saca de 60 kg foi de R$ 64, frente a R$ 58 do mesmo período do ano passado.
Outro ponto observado pelo analista do Deral é a mudança no modo de comercializar a soja. “Hoje, no Paraná, temos um sistema cooperativo muito forte, que propicia um suporte mercadológico interessante para o produtor, com um conjunto de informações claras para a tomada de decisão e de contratos”, ressalta. Ele destaca que, ao contrário de anos anteriores, como 2019 e 2020, a comercialização no mercado futuro está menor. “Nas últimas safras, o produtor tem comercializado de maneira mais cadenciada, ao longo da safra, uma vez que ele tem maior capacidade de armazenamento junto às cooperativas. Se for o caso, ele prefere segurar a soja e assumir o risco de vender na entressafra, em busca de um preço melhor”, adverte.
Conforme Gervásio, o cenário de grandes volumes de produção irá se confirmar a partir da primeira quinzena de novembro, o que pode pressionar significativamente os preços. “Apesar das perdas, a soja é uma cultura extremamente rentável ao longo do tempo. Em geral, o produtor capitalizado não precisa buscar muito dinheiro para implantar a lavoura e pode assumir um risco maior”, pontua.