Segundo a Serasa, 24% das contratações para custeio com recursos do Plano Safra não foram usadas essa finalidade
Um levantamento inédito realizado pela Serasa Experian mostrou que 24% das operações com recursos do Plano Safra destinados ao custeio do plantio de soja são desviadas para cultivos diferentes do solicitado junto às instituições bancárias ou, pior, não são usadas para o plantio de nenhuma cultura. O número absoluto de operações não foi divulgado.
Em uma amostragem de 3,9 milhões de hectares destinados à soja e financiados na safra 2022/23, 607 mil hectares foram identificados com possível desvio de finalidade. Ou seja, o recurso do Plano Safra captado em financiamento para custear lavouras pode não ter sido utilizado para o fim declarado originalmente.
Ao considerar o crédito concedido associado a essa área analisada, de R$ 18 bilhões, o risco financeiro seria de cerca de R$ 3 bilhões, segundo o levantamento, o que equivale a 15,7% de todo o crédito agro contratado originalmente para custear o cultivo da soja.
“As imagens de satélite nos mostraram que algumas áreas receberam menos soja do que o declarado, com parte da área recebendo milho, por exemplo. Já outras imagens apontaram áreas sem nenhum plantio”, afirmou ao Valor o chefe de agronegócio da Serasa Experian Marcelo Pimenta.
Como ponto positivo, a análise mostrou que oito em cada dez operações analisadas fizeram o uso adequados dos recursos. A pesquisa considera uma margem de erro de 10% da área de produção, que pode significar não um desvio, mas uma gleba não tão bem delimitada no momento de elaboração do crédito.
A Serasa começou a oferecer o serviço de identificação de desvio de finalidades aos bancos que atuam como agentes do Plano Safra. Também para tradings e empresas de insumos que fazem barter com os produtores. A intenção é diminuir o risco de calote para esses agentes, já que o pagamento dos financiamentos depende da colheita e, muitas vezes, é definido em sacas.
“Claro que existem diferentes situações quando analisamos as imagens. Há o produtor que delimitou mal a área, há o que por algum motivo decidiu mudar o cultivo de última hora e que deveria ter avisado o agente financeiro e não o fez. E há o que daria um default. As imagens são o início de uma investigação”, apontou.
Essa análise foi realizada a partir dos dados do Banco Central aliados a um recorte de operações com glebas de todas as instituições financeiras no ano-safra 2022/23 (emitidas entre 1 de julho de 2022 e 30 de junho de 2023), para a soja e com a finalidade de custeio, na modalidade de lavoura.
Desde que comprou a Agrosatélite, em 2023, a Serasa intensificou seus serviços de monitoramento de safra via satélite para cerca de 20 grupos comerciais, incluindo bancos, tradings e empresas de insumos.