
A chegada da nova safra de café coincidiu com o agravamento dos atrasos nos portos brasileiros e o consequente aumento dos custos logísticos. Em setembro, aproximadamente 939 mil sacas não puderam ser embarcadas, o que equivale a 2.848 contêineres. O prejuízo direto para os exportadores foi de R$ 8,9 milhões, de acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Este foi o terceiro maior impacto financeiro registrado na série histórica da entidade, superado apenas pelos meses de novembro e dezembro do ano passado. A impossibilidade de realizar os embarques também impediu que o país recebesse US$ 348 milhões em receitas cambiais durante o período.
Logística paralisada e demanda por investimentos
Na visão de Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, a situação evidencia o esgotamento da infraestrutura portuária e reforça a necessidade urgente de investimentos. Ele defende a ampliação da capacidade de carga, a diversificação de modais de transporte e uma maior celeridade nos processos burocráticos. Um ponto crítico é o leilão do Tecon Santos 10, um terminal de contêineres localizado no Porto de Santos.
Segundo Heron, a demora na realização deste leilão intensifica os prejuízos e compromete o fluxo de exportações. Isso afeta não apenas o café, mas também outras importantes cadeias do agronegócio, como a de açúcar, algodão e celulose. Em outubro, o Cecafé, em conjunto com a Associação Logística Brasil, emitiu um comunicado público solicitando que o processo transcorra com ampla concorrência e sem restrições à participação.
Discussão sobre o leilão do Tecon Santos 10
O Tribunal de Contas da União (TCU) acompanha de perto este tema. A área técnica do tribunal apontou que a limitação da participação de empresas seria ilegal e contrária aos princípios da concorrência. O parecer recomenda que o leilão seja conduzido em fase única e sem restrições, visando evitar judicialização e novos atrasos.
Heron questiona os motivos para restringir a entrada de operadores experientes em um cenário onde o país busca aumentar a arrecadação e solucionar gargalos logísticos. Ele enfatiza que a decisão final, a cargo do Ministério de Portos e Aeroportos e da Antaq, deve ser eminentemente técnica e priorizar o interesse público.
Indicadores de atraso nos portos
Um levantamento realizado pelo Cecafé em parceria com a startup ElloX Digital revelou que 57% dos navios apresentaram atrasos ou alterações de escala em setembro. No Porto de Santos, principal rota de escoamento do café brasileiro, essa taxa atingiu 75%, com tempos de espera que chegaram a 35 dias.
No Rio de Janeiro, segundo maior polo exportador, 44% das embarcações registraram atrasos, com casos de até 63 dias de intervalo entre os prazos de embarque previstos.
Heron conclui que, enquanto a capacidade portuária não for expandida, o Brasil continuará a perder eficiência e receita no comércio exterior, apesar do potencial crescente das exportações do agronegócio.
Fonte: Canal Rural.








