Boi gordo: turbulência no mercado em novembro exige atenção do pecuarista

Mercado do boi gordo em turbulência com incertezas na China e investigação nos EUA. Gestão de risco e hedge são essenciais para navegar a volatilidade.

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Foto: Pixabay

Os fundamentos presentes no mercado do boi gordo sinalizavam para um último bimestre pautado por elevação dos preços. A oferta apresenta sinais de encolhimento, da mesma maneira que a demanda doméstica entra em seu período de maior aquecimento. Exportações em ritmo acelerado são uma constante em 2025, principalmente no segundo semestre, com a China absorvendo quantidades históricas de carne bovina.

No decorrer do mês, surgiram rumores sobre a presença de fluazuron acima do permitido em lotes de carne bovina exportadas para a China. Felizmente, este boato foi rapidamente descartado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). No entanto, esse simples rumor foi o bastante para desequilibrar a B3, que passou a operar abaixo do nível de preço do mercado físico em São Paulo.

Outro ponto de atenção está no resultado das investigações conduzidas pela China em torno do impacto das importações de carne bovina na produção local, com anúncio previsto para o mês de novembro, com data limite no próximo dia 26. Essa decisão será impactante para o mercado do boi gordo, dada a importância da China, que no momento absorve 47% de todo o volume embarcado pelo país.

O apetite de compra da China, que em julho, agosto, setembro e outubro importou volumes muito acima da normalidade, é interpretado por algumas empresas chinesas como uma antecipação das compras, já visando uma eventual salvaguarda.

Esse ambiente deixou o mercado do boi gordo apreensivo. A simples possibilidade de uma eventual restrição às compras de carne bovina do Brasil por parte da China foi o suficiente para que os contratos futuros do boi gordo na B3 derretessem na primeira semana do mês, ainda operando no território negativo durante a segunda semana do mês. Enquanto não houver um posicionamento oficial por parte do governo chinês, o quadro geral será de apreensão.

O mercado futuro do boi gordo, no decorrer desta década, possui essa característica: os rumores são precificados com grande agressividade, tanto para a alta quanto para a baixa. O atual ambiente indica claramente a necessidade de adotar no dia a dia ferramentas que sejam condizentes com as boas práticas de gestão de risco. Estabelecer a cultura do hedge (proteção) é essencial para conseguir resultados sólidos e garantir longevidade dentro de uma atividade que é cada vez mais desafiadora.

No último dia 7, o mercado conviveu com mais notícias em relação à China; no entanto, essa é uma informação positiva. Após um longo período, a China restabeleceu a compra de produtos avícolas brasileiros, a suspensão era consequência do foco de influenza aviária de alta patogenicidade ocorrido no município de Montenegro em meados de maio.

Para finalizar, nos Estados Unidos, o presidente norte-americano Donald Trump anunciou em suas redes sociais que vai iniciar uma investigação sobre as empresas frigoríficas, apontando para a formação de conluio e que os preços da carne bovina têm subido de maneira artificial. Vale destacar que o ambiente delimitado para a bovinocultura de corte nos Estados Unidos é altamente complexo, com o rebanho de bovinos na menor posição desde os anos 1970.

Diante dessas dificuldades, a arroba do boi gordo nos Estados Unidos apresenta altas contundentes ao longo deste ano, com um preço de US$ 120. A título de comparação, a arroba do boi gordo no Brasil custa em média US$ 60. Após o tarifaço, o quadro se tornou ainda mais complicado; o Brasil segue como alternativa mais interessante para o fornecimento dessa proteína.

Após acenos entre Brasil e Estados Unidos, é possível que um acordo entre os países seja costurado, restabelecendo a exportação brasileira com destino ao mercado norte-americano.

O cenário para o mercado da carne bovina é bastante conturbado neste último bimestre. Os pontos principais a serem analisados passam exatamente pela exportação de carne bovina. O fato é que o Brasil ocupa uma posição privilegiada. Mesmo com tamanha instabilidade, o avanço da exportação alterou completamente a estrutura da pecuária de corte nacional, oferecendo um dinamismo inédito para este mercado que historicamente conviveu com menor volatilidade.

Reciclagem animal: preços do sebo bovino encerram semana em leve queda

Os preços do sebo bovino apresentam algum recuo no decorrer da primeira semana de novembro. É importante mencionar que os preços do óleo de soja são uma variável importante para justificar esse comportamento, com maior disponibilidade de produto do que o previsto inicialmente pelo mercado.

A grande variável no final deste ano também está nas exportações, considerando o grande volume de sebo bovino que foi embarcado de janeiro a agosto, com o tarifaço fechando a janela de exportação. Os números evidenciados em setembro são menos representativos.

Caso um acordo entre Brasil e Estados Unidos seja alcançado, a expectativa é de um ritmo mais intenso de embarques, o que pode alterar a dinâmica de mercado no restante de 2025. Isso pode oferecer uma mudança de viés para os preços do sebo bovino, desencaixando esse produto de sua tradicional correlação com o óleo de soja.

*Fernando Henrique Iglesias é coordenador do departamento de Análise de Safras & Mercado, com especialidade no setor de carnes (boi, frango e suíno)


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Fonte: Canal Rural.