COP30 no Brasil: o que o agronegócio espera da conferência em Belém

O agro brasileiro busca regras claras no mercado de carbono e acesso facilitado a financiamentos na COP30. O setor quer ser reconhecido como parceiro estratégico na solução das mudanças climáticas.

COP30
Foto: Sergio Moraes/COP30

A realização da COP30 no Brasil representa uma oportunidade ímpar para o setor agropecuário demonstrar seus avanços e influenciar decisões globais sobre clima e produção sustentável. Contudo, líderes e especialistas apontam que o principal desafio reside em harmonizar políticas, tecnologia e financiamento. O objetivo é assegurar que o agro tropical seja amplamente reconhecido como um componente essencial das soluções climáticas, e não meramente como um contribuinte para as emissões.

As lideranças do agronegócio consultadas concordam em três pilares fundamentais para a conferência:

  1. Estabelecimento de regras claras para o mercado de carbono, integrando plenamente as práticas agropecuárias aos sistemas de compensação e às metas nacionais;
  2. Acesso facilitado ao financiamento climático, com linhas de crédito efetivamente disponíveis para o campo; e
  3. Reconhecimento formal do agro tropical como parceiro estratégico na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Segundo os especialistas, é crucial que esses pontos resultem em encaminhamentos concretos de Belém, transformando potenciais em resultados tangíveis.

Regras claras e integração ao mercado de carbono

Na visão de Giuliano Alves, gerente de Sustentabilidade e Projetos da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a COP30 será um fórum crucial para solidificar o papel do agronegócio na agenda climática global. Ele ressalta que o setor almeja “ser reconhecido como parte da solução para os desafios do clima, e não o vilão da história”.

Nesse sentido, a Abag, em colaboração com mais de 80 organizações, desenvolveu um posicionamento setorial que propõe práticas agrícolas de baixo carbono e estratégias para aumentar a resiliência climática. Dentre as prioridades estão o avanço na regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), a incorporação de tecnologias sustentáveis no cálculo das metas nacionais e a liberação de fontes de financiamento voltadas à inovação e ao mercado de carbono.

“Para que a participação do agro seja efetiva, o Brasil precisa apresentar resultados concretos em governança e credibilidade do sistema de emissões, prontos para serem reconhecidos internacionalmente”, enfatiza Giuliano.

Financiamento é o ponto-chave da transição

Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroicone, destaca o financiamento climático como uma prioridade na avaliação da COP30, posicionando-a como a conferência da implementação, onde os países devem concretizar seus compromissos.

“O maior desafio é fortalecer o financiamento e baratear o custo do crédito climático, fazendo o dinheiro chegar a quem precisa implementar as ações”, afirma.

Lima aponta que as soluções agrícolas para mitigação e adaptação às mudanças climáticas já existem, mas dependem de recursos e de uma estrutura de cooperação que integre governos, empresas e produtores.

Ele reforça o papel estratégico da agricultura tropical, tanto na segurança alimentar quanto na energética, com potencial em biogás, biometano e etanol. “Se a COP30 conseguir destravar o acesso a esses recursos, ela terá cumprido sua missão”, conclui.

O agro quer levar resultados concretos para Belém

Celso Moretti, ex-presidente da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), avalia que o Brasil está em posição de liderar as discussões sobre agricultura sustentável e economia de baixo carbono na COP30.

Entre as contribuições que o setor pode apresentar, Moretti menciona o Pacto Metano Agro 2030, o fortalecimento do Programa ABC+ e um compromisso jurisdicional com a Amazônia-Cerrado, incluindo metas voluntárias e bonificações financeiras atreladas ao desempenho ambiental.

Ele também ressalta a necessidade de o país agilizar a regulamentação do SBCE, aprimorar a integração entre o Plano Safra e o crédito verde, e apresentar dados robustos sobre rastreabilidade e conformidade ambiental. “Essa coerência entre política de crédito e política climática é o que vai permitir que o produtor receba tanto pelo crédito rural quanto pelos serviços ambientais que presta”, declara.

De Belém para o mundo

A despeito das nuances em cada abordagem, as três fontes convergem em uma perspectiva unânime: a COP30 será decisiva para converter promessas em ações concretas. O agro brasileiro almeja sair de Belém com diretrizes claras sobre o mercado de carbono, o financiamento climático e o reconhecimento do papel produtivo e ambiental da agricultura tropical.

Mais do que um palco para discursos, o setor espera que a conferência marque o início de uma nova era, onde sustentabilidade e competitividade caminhem lado a lado.

Fonte: Canal Rural.