Muito se fala sobre o quanto o Piauí precisa sair do atoleiro para se tornar um Estado mais desenvolvido. Este, inclusive, tem sido o principal mote dos governos nos últimos 20 anos. Um Estado não industrializado com vastas regiões de terras no cerrado propícias ao cultivo de milho, algodão e soja etc. Não seria esta uma grande oportunidade de crescimento para um Piauí tão carente de quase tudo?
Remonta à década de 1980 a chegada dos primeiros agricultores vindos do sul dispostos a aproveitar as favoráveis condições dessa região para a produção em grande escala. De cara, tinham como vantagem o preço baixo da terra. Por outro lado, a falta de estrutura, quatro décadas depois ainda afetam os negócios, mesmo com uma evolução dos processos produtivos e um crescimento exponencial dos resultados, colocando em 2022 três municípios do Piauí entre os 100 maiores produtores de grãos do país.
Alzir Aguiar Neto, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí – Aprosoja-PI fala sobre os desafios deste agora importante segmento empresarial de nosso Estado. A Aprosoja é uma entidade que surgiu da necessidade do setor produtivo se organizar e unir forças e resolver questões fundamentais. Como presidente aqui, tem assento na associação nacional.
Segundo Alzir, a região nunca foi pensada ou planejada e o problema estrutural mais grave é a defi ciência de estradas para a escoação da produção. Para esta grande área, temos apenas quatro grandes rodovias asfaltadas. A região cresceu muito e cresceu rápido, então a malha rodoviária é defi citária em termos de quantidade de estradas e conservação das existentes. O período das chuvas é sempre tempo de deterioração das vias, inclusive das asfaltadas. Alzir lembra que as parcerias público-privadas podem ser a solução para a questão das estradas.
Outro grande desafio dos produtores de grãos é o investimento em pesquisa. Não resta dúvida de que a produção de grãos hoje se apresenta com grandes avanços tecnológicos, tendo sido no Piauí, a primeira fazenda a receber o esperado 5G, que promete incrementar a automatização de boa parte da produção. Estamos fazendo a nossa parte investindo em pesquisa, tecnologia e parcerias com órgãos públicos como Embrapa e Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
Modernas técnicas elevaram os níveis produtivos até chamada “revolução verde”, colocando o Brasil entre os maiores produtores de alimento do planeta, o que nos levou à indicação ao Prêmio Nobel. Tal reconhecimento certamente leva em conta a harmonia entre o agro e o meio ambiente.
De acordo com Alzir Aguiar, são duas faces da mesma moeda, sendo impossível pensar em um sem colocar o outro na pauta. Segundo estudos da Embrapa, dois terços de preservação da vegetação nativa do cerrado estão em propriedades particulares que, para funcionarem, necessitam das licenças e garantias de respeito ao meio ambiente.
Parcerias com a UESPI, por exemplo, estão nos ajudando na implantação de um laboratório de solos e sementes a partir de um termo de colaboração com vistas a potencializar o desenvolvimento do agronegócio em termos científicos e para que esse avanço seja acessível aos produtores associados.
TECNOLOGIA – Conhecimento, máquinas e equipamentos de última geração colocam as fazendas produtoras de soja do Piauí entre as mais modernas do Brasil
Um dos aspectos mais delicados do setor produtivo no Brasil é a carência de mão- -de-obra. No agro não é diferente. Sendo um setor altamente metódico e baseado em padrões técnicos e científicos, é óbvio que necessitamos cada vez mais de pessoal qualificado. Drones, máquinas operadas à distância, sistemas de controles informatizados, tudo isso tem de ser feito por gente capacitada. Para gerar riqueza para o Estado, o setor requer qualidade e, em contrapartida, oferece diversas oportunidades com remuneração à altura para muitos postos de trabalho.
Toda a complexidade do agronegócio exige uma base de estudos que ainda não dispomos no Piauí. Inclusive aqueles que balizam as operações de crédito que importamos de estados mais avançados como o Mato Grosso, Goiás e Paraná. Assim como na pesquisa da produção em si, também estamos construindo parcerias com as universidades, fundações e outros órgãos públicos estabelecermos o regramento necessário para o setor. Público e privado, temos que unir forças pelo desenvolvimento. O agro não é futuro. O agro é agora.