Dados divulgados pela ABRACAL mostram quais estados atualmente são os maiores produtores de calcário agrícola no Brasil; veja a importância desse minério para a agricultura brasileira
Cerca de 70% dos solos tropicais brasileiros são considerados ácidos, por fatores geológicos, possuindo pH baixo e alta concentração de íons H+ e Al+3. A acidez no solo é provocada principalmente pela exportação de nutrientes pelas raízes das plantas, pela lixiviação de nutrientes, pela erosão do solo e pelo uso de fertilizantes acidificantes. A aplicação de calcário é uma alternativa eficiente e barata para a correção da acidez de acordo com especialistas e produtores. Essa técnica, além de incrementar as produtividades, também reduz a abertura de novas áreas nativas para a exploração.
O calcário é um importante minério para a agricultura, a adição de calcário agrícola ao solo é essencial pois, além de diminuir a acidez, fornece uma quantidade de macronutrientes para as plantas, como cálcio e magnésio, evitando a toxidez do alumínio, ferro e manganês, que, em grandes quantidades, podem ser prejudiciais para as plantas. Sem corrigir a acidez do solo, os fertilizantes, que são cotados em dólar, possuem eficácia comprometida, aumentando ainda mais o problema dos solos ácidos.
O Brasil hoje possui atualmente mais de 50 bens minerais com reservas conhecidas, e uma dessas substâncias é o calcário agrícola. Mato Grosso é o maior produtor de calcário agrícola do país, segundo fontes da ANM (Agência Nacional de Mineração), tendo produzido em 2021 cerca de 10,9 milhões de toneladas.
De acordo com a ABRACAL (Associação Brasileira de Produtores de Cal), a última estimativa é de que o agronegócio do Brasil necessite de 80 milhões de toneladas de calcário/ano. No entanto em 2021 o consumo interno girou entorno de 54 milhões de toneladas. Ao todo, o setor contabiliza um déficit de 30% (24 milhões de toneladas) na calagem do solo brasileiro. Dados divulgados pela Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola, mostram quais estados atualmente são os maiores produtores de calcário agrícola. Informações são da produção em 2020:
Mato Grosso – 9,5 milhões de toneladas;
Minas Gerais – 6,5 milhões de toneladas;
Goiás – 5,9 milhões de toneladas;
Paraná – 5,2 milhões de toneladas;
Tocantins – 4,6 milhões de toneladas;
Já no consumo o cenário muda um pouco, sai Tocantins e entra São Paulo:
Mato Grosso – 9,5 milhões de toneladas;
Minas Gerais – 5,4 milhões de toneladas;
Goiás – 4,7 milhões de toneladas;
São Paulo – 4,5 milhões de toneladas;
Paraná – 4,3 milhões de toneladas;
De acordo com a ANM, todas as rochas carbonáticas compostas predominantemente por carbonato de cálcio e/ou carbonato de cálcio e magnésio podem ser usadas na correção da acidez dos solos. No Brasil, geologicamente, as reservas estão distribuídas em praticamente todos os estados e representam centenas de anos de produção nos níveis atuais.
Para a exploração de calcário o interessado após identificar a jazida, deve requerer junto a ANM o direito de exploração via o regime de licenciamento, que seria o mais simplificado, e em seguida solicitar todas as licenças ambientais necessárias para o desenvolvimento da lavra.
Uso do calcário agrícola em solos brasileiros
A calagem corrige a acidez do solo e melhora os resultados da adubação. “Dentro desse escopo do plano, entendemos que uso eficiente dos adubos passa pela prévia correção do solo. Diversos trabalhos científicos demonstram que a adubação em solo ácido gera desperdício em média de 35% dos fertilizantes”, declarou recentemente o diretor executivo da Abracal, Euclides Francisco Jutkoski.
Para que seja bem sucedida, a aplicação da calagem precisa começar com a análise do solo por meio da coleta de amostras. A partir do resultado dessa análise do solo, é necessário então escolher o tipo de calcário que será utilizado para sua correção — essa escolha vai depender do quociente de magnésio em cada tipo e, também, da granulometria. Escolhido o tipo, é preciso calcular a dose de calcário necessária. Se for preciso uma dose muito alta, o recomendado é que a aplicação seja dividida em ao menos duas aplicações, para evitar que o solo sofra pelo excesso de calcário.
Ele deve ser distribuído uniformemente por toda a extensão do solo e incorporado à terra em uma profundidade de 17 a 20 centímetros. É importante, ainda, que o processo de calagem seja executado em até três meses antes do plantio. O processo de análise e dosagem deve ser repetido a cada plantio, porque, a médio e longo prazo, essas intervenções calcárias repetidas vão amenizando continuamente a acidez do solo, já que começam a atingir camadas cada vez mais profundas.
Conheça os tipos de calcário agrícola
Todos os tipos de calcário utilizados na agricultura têm carbonato de cálcio o suficiente para promover a correção da acidez. O que muda de um para outro são a concentração de magnésio e a granulometria.
Calcário calcítico – Tem maior teor de óxido de cálcio e menor concentração de magnésio (inferior a 10%). É indicado para solos que apresentam menos necessidade de magnésio e maior necessidade de cálcio.
Calcário magnesiano – Considerado intermediário, com concentração de magnésio entre 10 e 25%, esse calcário é recomendado para solos que têm teor equilibrado de cálcio e magnésio.
Calcário dolomítico – Tem alta concentração de magnésio, acima de 25%, e é indicado para solos com teor de magnésio abaixo do ideal.
Calcário filler – Essa categorização está relacionada à diferença granulométrica. Os três tipos de calcário citados acima podem estar na versão filler, o que muda é que ele é muito mais fino que o convencional — o que faz com que aja mais rapidamente no solo. Por isso, ele é mais indicado em casos de plantio direto.
Entretanto, apenas 40% dos produtores brasileiros conhecem a real necessidade da correção da acidez no solo. Esses dados são da ABRACAL (Associação Brasileira de Produtores de Cal) que também afirmam que para cada tonelada de fertilizante é necessário aplicar de 2,5 a 3 toneladas de calcário agrícola, mas a estimativa recente mostra apenas de 1,5 a 2 toneladas. Se o agronegócio brasileiro consumisse 90 milhões de toneladas de calcário agrícola por ano, a produtividade poderia ser ampliada em 60% sem precisar de novas áreas. A afirmação é da Abracal e há explicações científicas para o incremento. A calagem eleva o pH e o fornecimento de cálcio e magnésio, além de reduzir os efeitos tóxicos do alumínio, ferro e manganês. Dentre a importância do calcário, o uso da cal também potencializa outros minerais como enxofre e potássio, entre outros. A calagem torna ainda o solo mais agregado, reduzindo efeitos da erosão. O professor Silvino Guimarães Moreira, da Universidade Federal de Lavras (Ufla) tem se dedicado a pesquisar as deficiências dos solos brasileiros e a buscar soluções para melhorar sua qualidade. “O calcário é a base, é o alicerce pra gente começar a construção da fertilidade dos nosso solos. Os solos brasileiros realmente tem os teores baixos de cálcio, magnésio e o calcário é essencial para elevar também o PH que está ligado a eficiência do uso de todos os nutrientes”, conclui o professor.
Adubar em solo ácido é jogar dinheiro fora
De acordo com a Abracal, dependendo do grau de acidez de um solo, adubá-lo pode significar jogar dinheiro fora. Um exemplo prático: aplicando 100 Kg/ha da fórmula (04 – 14 – 08) (N – P – K) a perda pode chegar a 70 Kg/ha, ou seja, 70% deste adubo é perdido, sendo somente 30% do adubo aplicado aproveitado pelas plantas. A consequência é a baixa produtividade.
O uso do calcário agrícola tem inúmeras vantagens e deve ser uma prática com maior visibilidade e importância. A falta de informações dos benefícios e o pouco reconhecimento da sua importância, fazem com que essa prática simples e barata (em relação a outras práticas agrícolas) seja deixada de lado. A melhor forma de saber a recomendação para a aplicação é através das análises do solo, avaliando a acidez, para que o produtor possa fazer a aplicação correta e gerar resultados positivos.
Fonte: Compre Rural