No último dia 29 de maio, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) sediou o Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, que trouxe à tona discussões sobre o potencial do hidrogênio verde como uma fonte de energia sustentável. O Brasil, com sua matriz energética majoritariamente limpa, surge como um possível líder na produção desse combustível, tanto para uso interno quanto para exportação.
O hidrogênio tem sido amplamente utilizado nas indústrias e na agricultura, e apresenta um grande potencial para abastecer veículos, incluindo carros, ônibus e até mesmo aviões. No entanto, sua produção exige uma quantidade significativa de energia, geralmente proveniente de combustíveis fósseis.
Diante desse cenário, o hidrogênio verde vem ganhando destaque como uma alternativa ideal tanto para substituir o hidrogênio convencional quanto para os combustíveis derivados do petróleo. Esse tipo de hidrogênio é produzido a partir de fontes renováveis, como energia solar ou etanol de cana-de-açúcar.
Durante o evento, especialistas ressaltaram a importância do hidrogênio verde na transição energética. Ana Flávia Nogueira, professora do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp), destacou que cerca de 90% do hidrogênio produzido atualmente é proveniente de fontes fósseis, como o gás natural. No entanto, com a certificação de “verde”, o hidrogênio deve ser produzido a partir de fontes renováveis, como energia fotovoltaica, eólica e biomassa.
O Brasil se mostra favorável nessa transição energética devido à sua matriz energética já consolidada na área de renováveis. Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, destacou a importância do país em cumprir os compromissos globais de redução de emissões de gases de efeito estufa e mitigação dos impactos das mudanças climáticas. O hidrogênio verde é uma das alternativas promissoras para alcançar esses objetivos.
Daniel Gabriel Lopes, sócio da Hytron Energia e Gases Especiais, mencionou que a principal forma de obtenção do hidrogênio é por meio do processo de eletrólise, utilizando eletricidade e água. Outra opção é o uso de biocombustíveis, como o etanol e o biometano. Nesse sentido, São Paulo desponta como um grande produtor de biocombustíveis, especialmente o bioetanol e o biometano, oferecendo uma fonte promissora para a produção de hidrogênio verde.
Lopes destacou o apoio da FAPESP, por meio do Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), no desenvolvimento de equipamentos para a produção de hidrogênio a partir do etanol. Essa tecnologia permite a exportação do etanol e a produção de hidrogênio no local onde será utilizado.
Uma parceria entre a Hytron Energia e Gases Especiais, a Shell, o Senai e a Universidade de São Paulo (USP) resultará na inauguração, em 2024, de uma estação de abastecimento de veículos a hidrogênio obtido do etanol. A iniciativa contará com três ônibus que circularão pelo campus da universidade, além de um carro abastecido com esse combustível renovável.
Lucia Helena Mascaro Sales, professora do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ressaltou que a produção de hidrogênio verde no Brasil não se limita apenas à venda desse combustível para outros países. O país tem a oportunidade de exportar produtos sustentáveis, como combustíveis, amônia, ureia e até mesmo aço, agregando valor a esses produtos no mercado internacional.
Na economia de baixo carbono, o fator monetário não será o único considerado, mas também os custos sociais e ambientais. Portanto, é necessário avançar em todas as frentes, diversificando as soluções e impulsionando a produção de hidrogênio verde.
O evento contou ainda com a presença de Edson Martins, diretor-executivo do ILP (Instituto do Legislativo Paulista), que ressaltou a importância desse debate para o desenvolvimento de estratégias e políticas relacionadas ao hidrogênio verde.
O Brasil, com sua matriz energética limpa e o potencial de produção de hidrogênio verde, está caminhando na direção de se tornar um protagonista global nessa importante transição energética.
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Fonte: A Crítica.