Após experimentos malsucedidos com eletrificação, as duas principais mineradoras do Brasil, Vale, líder do setor, e a Anglo American, a terceira maior em atividade no país, estão agora direcionando seus esforços em direção à bioenergia como alternativas viáveis. Tanto o etanol quanto o HVO (diesel verde) emergem como opções mais ágeis para atingir a descarbonização de frotas de caminhões de grande porte.
Ademais, o hidrogênio verde surge como uma perspectiva promissora a ser considerada para o futuro.
Compreendendo cerca de 5% a 7% das emissões globais de gases de efeito estufa, a indústria de mineração está ativamente buscando maneiras de mitigar o impacto ambiental de suas operações. Os caminhões movidos a diesel são responsáveis por uma parcela significativa dessas emissões.
A pressão sobre as empresas mineradoras é intensificada pelo conceito de ajuste de fronteira, um plano implementado na Europa para avaliar o custo do carbono associado às importações para a União Europeia. O Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono (CBAM) contempla a possibilidade de impor tarifas sobre produtos como alumínio, ferro e aço, que sustentam as atividades industriais do bloco.
“Apesar dos avanços nos testes, a eletrificação ainda apresenta desafios a serem superados para veículos pesados de carga”, destaca Alexandre da Silva, responsável pelo desenvolvimento tecnológico voltado à descarbonização na Vale, em uma entrevista concedida à agência epbr.
O desafio
Lidar com caminhões de grande porte traz o desafio principal de agilizar o carregamento das baterias, que atualmente é demorado e prejudica a eficiência, devido à tecnologia ainda pouco avançada, conforme mencionado por Silva. Além disso, as operações das mineradoras muitas vezes ocorrem distantes da rede elétrica, o que dificulta o acesso a pontos de recarga com energia renovável.
De acordo com Tiago Alves, da Anglo American, os caminhões robustos como esses ainda não podem contar com a eletrificação avançada necessária para suas demandas, mas não descartam explorar eletrificação para veículos menores ou de maneira híbrida em locomotivas combinadas com outros combustíveis.
Sai bateria, entra bioenergia
As empresas de mineração estão em busca de cumprir rapidamente suas metas de neutralidade, e os biocombustíveis surgem como a rota mais promissora para obter resultados iniciais na redução de emissões.
A Anglo, por sua vez, tem o objetivo de diminuir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em 30% até 2030 e alcançar neutralidade até 2040 nos escopos 1 e 2, que abrangem o consumo de energia elétrica e as atividades operacionais internas.
“Estamos trabalhando também muito sério olhando para o HVO a gente tem um entendimento hoje com HVO pode não ser a solução definitiva do futuro mas de transição entre o status atual do uso do diesel e no futuro o uso do hidrogênio”, afirma Tiago Alves, representante da Anglo.
A empresa já conduziu experimentos utilizando hidrogênio verde em caminhões de grande porte (com capacidade para 250 toneladas de carga) na África do Sul e no Chile.
E agora segue com os estudos no Brasil
Uma das conclusões aponta para a necessidade de produção local do hidrogênio verde para consumo. A Vale, por sua vez, busca reduzir suas emissões em 33% até 2030 e alcançar neutralidade de carbono até 2050. A empresa também planeja começar os testes com etanol ainda este ano.
No que se refere aos veículos de transporte, a Vale está atualmente focada em avaliações para introduzir biocombustíveis como primeira medida. Entre as alternativas disponíveis, o etanol destaca-se como a opção de maior potencial para substituir combustíveis fósseis nos caminhões de carga pesada, conforme destacado pelo gerente da Vale.
Trens e navios
A Vale tem pesquisado o potencial da amônia verde, derivada do hidrogênio, para aplicação em navios e locomotivas próprias. De acordo com Silva, a amônia é vista como a principal opção para as locomotivas. A empresa adquiriu três locomotivas elétricas da Wabtec para explorar a utilização de amônia como substituto do diesel.
A amônia oferece vantagens, permitindo maior autonomia para as locomotivas em comparação com outros combustíveis de baixa pegada de carbono. Além disso, a amônia tem alta octanagem e já possui uma infraestrutura de distribuição estabelecida em grande escala, conforme explicado pelo executivo da Vale.
No setor marítimo, a Vale lançou o primeiro navio de transporte de minério com velas rotativas, um Guiabamax, visando reduzir até 3,4 mil toneladas de CO2 equivalente por ano. A empresa busca uma frota diversificada, operando com vários combustíveis, incluindo metanol e amônia verde.
A Anglo American, por sua vez, está considerando o gás natural liquefeito (GNL) a curto prazo e vê a amônia como uma opção para descarbonizar o transporte marítimo no futuro. Recentemente, o navio MV Ubuntu Loyalty da Anglo American, movido a GNL, completou sua viagem inaugural ao atracar no Brasil. O uso de GNL reduz cerca de 35% das emissões de gases de efeito estufa em comparação com combustíveis marítimos convencionais.
Alves destaca a necessidade de abordar o desafio globalmente e menciona que a empresa está estudando a viabilidade da amônia verde no futuro, embora haja um grande gap tecnológico para atingir esse objetivo.
Fonte: epbr.