Impacto

Sinalização dos EUA sobre tarifas renova incertezas no agro

O anúncio dos Estados Unidos sobre a possibilidade de adotar tarifas comerciais recíprocas reacende preocupações quanto ao cenário da economia global e seus reflexos no agronegócio brasileiro. Uma análise recente do Itaú BBA aponta que, mesmo sem recessão, um crescimento econômico mundial mais fraco tende a afetar negativamente a demanda por algumas commodities agrícolas, ao …

O anúncio dos Estados Unidos sobre a possibilidade de adotar tarifas comerciais recíprocas reacende preocupações quanto ao cenário da economia global e seus reflexos no agronegócio brasileiro. Uma análise recente do Itaú BBA aponta que, mesmo sem recessão, um crescimento econômico mundial mais fraco tende a afetar negativamente a demanda por algumas commodities agrícolas, ao mesmo tempo em que pode gerar oportunidades de mercado para o Brasil.

Reprodução / Freepik

Entre os produtos com maior risco de impacto está o suco de laranja. O consumo global já registra retração, pressionado pelos altos preços ao consumidor. Atualmente, os EUA absorvem 35% das exportações brasileiras da bebida, seguidos por Bélgica (28%) e Holanda (23%). Caso a demanda americana recue, o Brasil precisará redirecionar suas estratégias para a União Europeia ou buscar novos mercados, como China e Japão. Vale lembrar que, em 2024, os EUA importaram 70% de seu suco do Brasil e 24% do México, o que indica uma forte dependência da produção brasileira.

O café também entra na lista de produtos sensíveis ao novo contexto. Os EUA importaram 24,6 milhões de sacas de café verde em 2024, sendo 31% de origem brasileira. A substituição do café arábica do Brasil seria complexa devido à escala de fornecimento e à escassez global. No caso do robusta, o país ganha destaque competitivo: tarifas impostas pelos EUA a concorrentes asiáticos como Vietnã (46%), Indonésia (32%) e Índia (26%) são bem superiores às aplicadas ao Brasil (10%), favorecendo a expansão da participação brasileira no mercado americano.

Já no setor do algodão, o Brasil desponta como substituto natural diante da possível queda nas importações da pluma americana pela China, que em 2023 adquiriu 760 mil toneladas do produto dos EUA. Com expectativa de safra recorde em 2024/25, o Brasil pode ampliar sua presença no mercado chinês, mesmo diante de uma demanda menor no país asiático.

Em meio a um cenário internacional mais protecionista, o agronegócio brasileiro se vê diante do desafio de manter sua competitividade, mas também de aproveitar as brechas que surgem nos fluxos comerciais globais.