Segundo André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), aumento mais intenso foi impulsionado por commodities mais caras no atacado
A inflação apurada pela segunda prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), usado para reajustar contratos de aluguel, acelerou de 0,47% em setembro para 1,37% em outubro. Foi a maior taxa para segunda prévia desde abril de 2022 (1,85%), informou André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O aumento mais intenso foi impulsionado por commodities mais caras no atacado, continuou ele. Com o desempenho, a taxa em 12 meses do indicador acelerou para 5,44%, a mais forte desde dezembro de 2022 (5,79%). Para o especialista, o IGP-M deve continuar a acelerar até seu fechamento, cujo resultado completo será divulgado em 30 de outubro.
Ao detalhar as razões por trás da disparada da segunda prévia, Braz destacou o comportamento dos preços do atacado, que representam 60% do IGP-M. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que representa o setor atacadista, acelerou de 0,52% para 1,76% da segunda prévia de setembro para igual prévia em outubro. “Foram muitas commodities em alta [de preço] e todas com grande peso na formação do IPA”, explicou.
Braz refere-se aos aumentos, na segunda prévia de outubro, em minério de ferro (5,96%) e soja em grão (4,50%) – justamente os dois itens de maior peso no cálculo do IPA. Enquanto o preço do minério subiu mais devido a movimentos de especulação, a soja ficou mais cara por condições mais erráticas de oferta.
Mudanças climáticas
Ele comentou que o clima mais volátil, devido às alterações climáticas, afetou muito a oferta de itens de pecuária e de lavouras mais expressivas. Além da soja, o milho também ficou 5,78% mais caro, na segunda prévia de outubro, acrescentou. No caso da pecuária, houve fortes aumentos de preços em carne bovina (12,92%) e bovinos (8,36%), também na segunda prévia do mês.
Agrícolas mais caros, no atacado, não são boa notícia para inflação dos alimentos no varejo, admitiu Braz. O repasse de aumentos de matérias-primas agrícolas atacadistas, para respectivos derivados junto ao consumidor, vai ocorrer em algum momento, admitiu o técnico.
Por enquanto, o grupo Alimentação no varejo permanece em deflação (de -0,20% para -0,04%). “Mas já está menos intensa [a de deflação]”, comentou o economista, ao observar que isso foi um fator que ajudou na aceleração do Índice de Preços ao Consumidor (IPC).
Da segunda prévia de setembro para igual prévia em outubro, o IPC, que representa o varejo e tem peso de 30% no IGP-M, passou de 0,20% para 0,34%. “Outro motivo para taxa maior do IPC foi a energia elétrica, que também subiu de preço no IPC.” Houve alta de 4,76% na tarifa de eletricidade residencial, na segunda prévia de outubro, devido à adoção de bandeira vermelha na tarifa, mais cara.
Ao ser questionado se a segunda prévia do IGP-M de outubro pode indicar novo ciclo de aceleração da família dos Índices Gerais de Preços (IGPs), o técnico foi cauteloso. Ele ponderou que, para mensurar tendências, sempre é melhor ter um período mais prolongado de resultados, e não somente um único desempenho de aceleração. Porém, admitiu que, no momento, “há mais fatores de aceleração do que de aceleração” a impactar o IGP-M.