Segurança alimentar e mudanças climáticas também são temas debatidos no evento
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) está sendo representado na 16ª Cúpula do BRICS, que ocorre em Kazan, na Rússia, pelo novo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, como parte da delegação brasileira liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O evento, presidido pela Rússia, reúne líderes de diversos países emergentes, como China, Índia, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e África do Sul, e contou com a participação remota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um dos temas que protagonizam o evento, presidido pela Rússia, foi segurança alimentar e mudanças climáticas em um momento em que o comércio global revê acordos, determina diretrizes e se divide entre exportações, rastreabilidade ou protecionismo, conforme pontuam analistas. A lei antidesmatamento da União Europeia, com vigência prevista para 30 de dezembro, é uma das determinações que mais chamam a atenção das origens produtoras de alimentos.
De acordo com Rodolfo Chagas, geógrafo especialista em Europa, a cooperação agrícola é uma forma de criar estratégias de profissionalização, de boas práticas de produção e viabilização do comércio internacional, em especial para países europeus que vêm demonstrando estratégias mais protecionistas e sofrem pressão do setor agrícola local para a retirada de subsídios e valorização da produção nacional ao invés das entradas facilitadas de exportações de outros continentes.
A lei antidesmatamento (EUDR, na sigla em inglês) prevê comprovação de que commodities agrícolas, como carne, cacau, café, provenham de áreas que não sofreram desmatamento nos últimos 20 anos. A medida, que é elogiada por analistas na ótica da sustentabilidade, é também criticada por ter um viés “baixista de preço”, como lembra o analista e diretor da Naval Fertilizantes, Luís Schiavo.
“Enquanto Índia e China optam por fomentar seus mercados internos para o próximo ano e o Brasil foca no volume de exportações, temos o bloco europeu pressionando com a justificativa ambiental, mas por trás do protecionismo há um interesse em manter commodities a custo menor, mesmo quando elas deveriam possuir valor agregado”, disse à reportagem.
Para ele, é uma forma de equilibrar os ânimos dos agricultores locais, que não têm a capacidade e nem área de produção como alguns integrantes do Brics, em especial o Brasil, ao passo que indiretamente garante oferta com preço atrativo, já que a lei condiciona a uma adaptação, em especial dos produtores brasileiros, que tem a UE como um de seus principais clientes.
“Sob a orientação do Ministro Carlos Fávaro, o Mapa tem trabalhado para reforçar a posição do Brasil como um dos principais fornecedores globais de alimentos, destacando a importância da cooperação multilateral no enfrentamento dos desafios relacionados à segurança alimentar, às mudanças climáticas e à energia”, informou uma nota do ministério.
A delegação do Ministério da Agricultura também tem a presença do Diretor de Promoção Comercial e Investimentos, Marcel Moreira, e do Adido Agrícola na Rússia, Marco Túlio Santiago.
De acordo com Luis Rua, a recente expansão das adidâncias agrícolas reforça ainda mais o papel do Brasil no BRICS. “O Brasil agora terá adidos agrícolas em todos os países do bloco, tanto nos membros fundadores quanto nos novos integrantes, o que amplia nossa capacidade de negociação e cooperação”, afirmou em nota.