Pesquisa e Tecnologia

Pesquisa confirma que elevar doses de corretivos no solo aumenta a produtividade de grãos

A correção do perfil do solo é especialmente estratégica na região do Matopiba, devido aos eventos de veranicos (período sem chuvas na estação chuvosa), que criam condições adequadas para a exploração máxima do perfil do solo durante períodos de estresse hídrico

Foto: Mônica Pereira.

A ciência agora confirma o que antes era motivo de dúvida e debate entre agricultores: aumentar as doses de calcário e gesso em áreas de primeiro cultivo pode elevar a produtividade de grãos em até 40%

Pesquisas recentes, apresentadas por Henrique Antunes, pesquisador da Embrapa Meio-Norte, revelam que, em uma área de abertura de plantio de soja, por exemplo, com a quantidade tradicional de aplicação de calcário em torno de três a quatro toneladas por hectare, a produtividade fica entre 35 a 40 sacas de 60 quilos. “Mas com a aplicação de doses entre sete e dez toneladas de calcário por hectare, a produtividade salta para 50 ou mais sacas por hectare”.

A comprovação veio por meio dos resultados de um projeto de pesquisa executado pela Embrapa Meio-Norte (Teresina/PI), em colaboração com a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) e a Universidade Federal do Piauí (UFPI, campus de Bom Jesus) na região do Matopiba, que compreende os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Esses resultados foram apresentados em um encontro de produtores, pesquisadores, estudantes, professores e técnicos da extensão rural, realizado no auditório do Gurguéia Palace Hotel, no município de Bom Jesus (a 603 quilômetros de Teresina). Nesse seminário, os pesquisadores Henrique Antunes, da Embrapa Meio-Norte; Julian Junio de Jesus Lacerda, da UFPI; João Herbert Moreira Viana, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas/MG); e Rafael Nunes, da Embrapa Cerrados (Planaltina/DF), detalharam o processo de pesquisa que durou três anos e foi conduzido na fazenda União, no município de Currais, nos arredores de Bom Jesus.

No que diz respeito às doses de calcário aplicadas em áreas de primeiro cultivo, Henrique Antunes explicou que as recomendações dos boletins oficiais situam-se em torno de três a cinco toneladas por hectare, dependendo do tipo de solo e qualidade do insumo disponível. No entanto, muitos agricultores têm aplicado doses superiores, entre oito a 12 toneladas por hectare, obtendo bons resultados na produtividade.

Os produtores buscam corrigir o perfil do solo de maneira mais rápida e alcançar produtividades satisfatórias já na primeira safra. No Piauí, os produtores de soja abrem, a cada ano, cerca de 5% de novas áreas.

Nos ensaios de pesquisa, foram testados níveis de até 20 toneladas de calcário por hectare. Ficou constatado que doses superiores a 15 toneladas por hectare geraram um desequilíbrio de nutrientes no solo, principalmente de fósforo, potássio e micronutrientes. No entanto, o uso de doses acima das recomendações oficiais se mostrou eficiente em corrigir o perfil do solo em até 60 centímetros, promovendo a construção da fertilidade de maneira mais rápida e impactando positivamente no estado nutricional das plantas e no rendimento de grãos.

A correção do perfil do solo é especialmente estratégica na região do Matopiba, devido aos eventos de veranicos (período sem chuvas na estação chuvosa), que criam condições adequadas para a exploração máxima do perfil do solo durante períodos de estresse hídrico, amenizando a falta de água. Além disso, a presença do gesso na correção permitiu melhorar as concentrações de cálcio em subsuperfície e diminuir significativamente as concentrações de alumínio.

De acordo com Rafael Maschio, diretor-executivo da Aprosoja-PI, a pesquisa demonstra que, nas condições tropicais com déficit hídrico na entressafra e devido à qualidade dos calcários utilizados, é necessário aumentar as doses de calcário (e gesso). Isso resulta em melhores condições de fertilidade já no primeiro ciclo e nos ciclos subsequentes, adiando a necessidade de reaplicação de calcário e gesso nas áreas.

A produção e a área plantada de soja no Piauí têm crescido constantemente. Na safra 22/23, a produção apurada em julho chegou a 3,4 milhões de toneladas em uma área colhida de 960.085 hectares. Já na safra 21/22, a produção foi de 3,07 milhões de toneladas e a área colhida foi de 871.161 hectares, representando um aumento de 10,21% na área plantada.

O Matopiba, como região de fronteira agrícola, é caracterizado pela abertura de áreas para o cultivo de grãos, principalmente soja. O cerrado, com solos de alta acidez e concentração de alumínio, requer a correção do pH e a eliminação do alumínio pelo uso de corretivos, principalmente o calcário, que também é uma fonte de cálcio e magnésio essenciais para as plantas.


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