Setor agrícola europeu diz que a Comissão Europeia quer ‘comprar’ seu silêncio em relação ao acordo
A Comissão Europeia prepara um fundo financeiro para ‘compensar’ os agricultores europeus dos efeitos de um acordo de liberalização com o Mercosul. A conclusão da negociação poderia ser anunciada até o final deste ano, na expectativa em Bruxelas e em Brasília.
A ideia de Bruxelas com o pacote de indenização visa derrubar a resistência da França, principalmente, e de outros países contrários ao acordo, como a Irlanda e a Áustria.
O site Político, que revelou o plano da Comissão Europeia, lembra que esse tipo de ação tem precedentes. Em 2021, a União Europeia estabeleceu um ‘pacote de ajuste’ de 5,4 bilhões de euros (R$ 33,1 bilhões) para proteger vários setores, incluindo o pesqueiro, de potenciais impactos negativos com a saída do Reino Unido do mercado comum europeu.
Em 2019, quando a UE e o Mercosul anunciaram o então ‘acordo em princípio’ entre os dois blocos, o comissário de Agricultura na época, Phil Hogan, um irlandês, já tinha prometido assegurar 1 bilhão de euros /R$ 6,1 bilhões) em apoio financeiro para o setor agrícola europeu para o caso de ‘distúrbios no mercado’ resultante do acordo com o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
No entanto, nesta semana a reação do setor agrícola europeu ao plano de Bruxelas tem sido brutal. Acusam a Comissão Europeia, o braço executivo da UE, de tentar ‘comprar o silêncio dos agricultores como um punhado de moedas’.
Importações brasileiras
‘O que está ocorrendo é totalmente absurdo, nossos agricultores não podem aceitar isso’, disse Arnaud Rosseau, presidente do FNSEA, o maior sindicato agrícola francês. O setor de carne bovina europeu diz temer uma avalanche de importações da carne do Brasil, Argentina e Uruguai, mesmo fora de cota (que tem tarifa menor).
O presidente francês Emmanuel Macron, fragilizado politicamente, reafirmou esta semana sua oposição ao acordo com o Mercosul, insistindo que o bloco sul-americano não respeita os Acordos de Paris sobre o clima.
‘O acordo com o Mercosul, no estado atual, não é um tratado aceitável. Pedimos o respeito substancial dos Acordos de Paris, de cláusulas espelho e a proteção de interesses das indústrias e agricultores europeus’, disse Macron em Bruxelas.
Porta-voz da UE não comenta sobre eventual plano de compensação para agricultores. Um negociador francês, falando informalmente a jornais europeus, considerou boa a ideia – ou seja, o que os agricultores vão acabar querendo mesmo é muito mais subsídios.
Oficialmente, representantes franceses continuam a ameaçar com uma ‘minoria de bloqueio’ dentro da UE. Ou seja, 45% dos países membros, representando 35% da população europeia, poderiam congelar o acordo.
O fato é que as negociações entre o Mercosul e a União Europeia parecem estar em novo ritmo, a ponto de Pascal Lamy, ex-comissário de comércio da UE e ex-diretor-geral da Org