Reflexo do ciclo de alta da pecuária bovina, o abate no Brasil deve fechar 2024 em 37,2 milhões de cabeças, 9% acima do ano passado, de acordo com estimativa da Datagro Pecuária. A virada de ciclo está prevista para o ano que vem, quando os abates tendem a cair 4,3%, para 35,6 milhões de cabeças.
A maior concentração no descarte de fêmeas é o fator que impulsiona os abates e limita altas de preço mais significativas para a arroba do boi.
Segundo João Figueiredo, analista da Datagro Pecuária, o volume de fêmeas abatidas no Brasil vem renovando máximas por diversos meses consecutivos, movimento que tem se mantido desde o início de 2022.
Além do ciclo da pecuária, uma forte estiagem que atingiu a região centro-norte do país nos últimos meses fez pecuaristas optarem por enviar matrizes aos frigoríficos para abate.
“No entanto, em maio e no balanço preliminar de junho de 2024, observou-se uma mudança nesse cenário, com os números de abate de fêmeas começando a se aproximar dos registrados no ano passado”, disse o especialista. Para Figueiredo, esse realinhamento sugere que o setor pode estar, ainda que levemente, entrando em uma fase de retenção de fêmeas nas propriedades brasileiras.
“Os dados indicam que, a partir do segundo semestre de 2024, pode haver uma tendência de queda nos volumes de abate de fêmeas, alinhada com estratégias de recomposição de plantel das fazendas para a produção de bezerros”, afirmou.
Segundo Figueiredo, já é possível verificar que o preço do animal de reposição parou de cair em algumas praças, fator que torna atrativo para o pecuarista manter as fêmeas produtivas.
Como consequência, disse ele, a consultoria observou alguma recuperação de preço da arroba do boi gordo em determinadas regiões de produção de gado.
Na última semana, o indicador do boi gordo da Datagro mostrava que, em São Paulo, a arroba do animal estava cotada em R$ 225, mas com viés de alta, de acordo com o analista. “A gente viu a máxima de R$ 230, R$ 232 por arroba. Fazia tempo que o preço não estava subindo assim”, comentou.
Com os abates elevados de bois e fêmeas nos últimos meses, a expectativa é de que a oferta possa ficar — ainda que levemente — um pouco mais enxuta a partir de agora em comparação com os níveis do início deste ano, até a virada de ciclo em 2025.