
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) encerrou neste sábado (22) com avanços na agenda de adaptação, novas ferramentas internacionais de implementação climática e caminhos para o debate sobre a redução da dependência de combustíveis fósseis. Em uma coletiva de imprensa, o embaixador André Corrêa do Lago, a secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, a negociadora-chefe Liliam Chagas e a ministra Marina Silva detalharam os principais resultados do encontro.
O embaixador Corrêa do Lago destacou que a conferência começou sob forte pressão negociadora e com maior autonomia aos co-presidentes. Ele ressaltou que o pacote de adaptação, um dos mais complexos da história da COP, iniciou com mais de 100 indicadores e foi concluído com 59. Segundo ele, “havia consenso para apenas 10% desses indicadores. Reorganizamos as métricas e continuaremos as discussões em junho, em Bonn”.
No que diz respeito ao setor energético, Corrêa do Lago afirmou que existiam “duas maneiras de avançar” na implementação do plano para eliminar os combustíveis fósseis, tema que desde Dubai tem sido sensível. “Como diplomata, eu via uma versão mais conservadora, mas o discurso do presidente Lula colocou o tema no centro e abriu espaço para torná-lo uma agenda estruturante.” Mesmo sem consenso total, ele garantiu que a presidência brasileira continuará promovendo debates, reunindo pesquisas e ações para orientar os países nessa transição.
Ana Toni reforçou que a COP30 conseguiu “consensos em um tema tão difícil” e avançou na implementação de uma agenda concreta, sem que nenhum país desistisse do compromisso com o Acordo de Paris. Ela destacou a apresentação de 120 planos de aceleração relacionados a combustíveis comerciais, carbono e indústria verde, além de 29 documentos aprovados. “Pequenos e grandes passos foram dados em tempos geopolíticos difíceis. Não alcançamos tudo o que desejávamos, mas avançamos de forma firme.”
Para ela, um dos principais legados foi elevar a questão da adaptação “a outro patamar, acima de qualquer outra COP”, incluindo o esforço de triplicar o financiamento internacional até 2035. A inclusão inédita de mulheres e meninas afrodescendentes na agenda climática também foi destacada, assim como o fortalecimento da agenda oceânica.
Liliam Chagas afirmou que os países vulneráveis conseguiram unir forças e que o conjunto de indicadores aprovado servirá como uma bússola para medir avanços e orientar políticas públicas. Ela anunciou ainda o fortalecimento do Acelerador Global de Ação Climática, que funcionará como um espaço permanente para impulsionar ações concretas fora do âmbito das negociações formais. Outro avanço importante foi a criação de um fórum internacional para explorar a relação entre comércio e clima, um tema de grande interesse para o Brasil, visando promover ações climáticas por meio do comércio.
A negociadora destacou também inovações políticas, como o reconhecimento dos grupos afrodescendentes como vulneráveis, o reforço ao papel das terras indígenas na proteção de sumidouros de carbono e a inclusão de representantes de comunidades locais no processo, resultado de articulações externas à trilha oficial das negociações.
A ministra Marina Silva ressaltou que o posicionamento público do presidente Lula deu força à agenda de mitigação, permitindo sua integração com as ações de adaptação. “Não temos como adaptar infinitamente, mas é impossível pensar apenas em mitigar sem considerar a necessidade dos vulneráveis, que precisam de recursos financeiros, tecnológicos e de solidariedade para enfrentar as grandes mazelas e sofrimentos já existentes.” Ela destacou que, embora países ricos tenham suas trajetórias para abandonar os combustíveis fósseis, nações em desenvolvimento ou dependentes do petróleo ainda carecem de condições para essa transição. Por isso, a criação de condições para que esses países construam suas bases após mais de 30 anos de espera por respostas é fundamental.
Consensos
Marina também enfatizou o papel do mecanismo financeiro TFF, que substitui a lógica de doações por investimentos privados na proteção de florestas e biodiversidade. Sobre o legado da COP30, ela afirmou que a conferência ampliou a compreensão pública sobre as mudanças climáticas e valorizou o conhecimento das populações amazônicas, que enfrentam isolamento, dificuldades logísticas e escassez de alimentos, água e remédios. “A Amazônia não recebe apenas um legado, mas oferece um legado. Nós oferecemos o que há de melhor: nossas paisagens, nossas belezas naturais, nossa biodiversidade. A Amazônia é uma explosão de vida e beleza que nos convida a olhar para ela com admiração.”
A economista destacou a apresentação de 120 planos de aceleração em combustíveis comerciais, carbono e indústria verde, além dos 29 documentos aprovados.
“Pequenos e grandes passos foram dados em tempos geopolíticos difíceis. Não demos todos os passos que queríamos, mas demos passos firmes.”
Para Toni, um dos principais legados foi colocar a adaptação “em outro patamar, acima de qualquer outra COP”, incluindo o esforço para triplicar o financiamento internacional até 2035.
Ela ressaltou também a inclusão inédita de mulheres e meninas afrodescendentes na agenda climática e o fortalecimento da agenda oceânica.
Comércio
A negociadora-chefe Lilian Chagas acredita que os países vulneráveis conseguiram unir forças. Segundo ela, o conjunto de indicadores aprovado servirá de bússola para medir progresso e orientar políticas. “Isso vai balizar como cada país avançou e como seguir.”
A embaixadora anunciou ainda o fortalecimento do Acelerador Global de Ação Climática, que funcionará como espaço permanente para impulsionar medidas concretas fora da trilha formal de negociação.
Outro avanço teria sido a criação de um fórum internacional para tratar do vínculo entre comércio e clima. “É um espaço para explorar como o comércio pode ser gerador de ação climática, tema de grande interesse do Brasil.”
Liliam Chagas também destacou inovações políticas importantes, como o reconhecimento dos grupos afrodescendentes como vulneráveis, o reforço ao papel das terras indígenas como protetoras de sumidouros de carbono e a inclusão de representantes de comunidades locais no processo, resultado de articulações por fora da trilha oficial.
Combustíveis fósseis
Ao comentar o processo, a ministra Marina Silva destacou que o posicionamento público do presidente Lula deu força à agenda de mitigação e permitiu integrá-la à adaptação.
“Não temos como infinitamente adaptar, mas é impossível pensar só em mitigar sem considerar a necessidade dos vulneráveis que precisam de recursos financeiros, de recursos tecnológicos e principalmente de solidariedade para poder dar conta das grandes mazelas e dos sofrimentos que já estão sendo acometidos.”
A ministra considera que países ricos já possuem suas trajetórias para a saída dos combustíveis fósseis, mas países pobres, em desenvolvimento ou dependentes do petróleo não têm. Por isso, considerou crucial criar condições para que “esses países construam suas bases após mais de 30 anos esperando respostas sobre como sair da dependência do uso de combustíveis fósseis.”
Ela lembrou ainda que o trabalho envolve também a transição para o fim do desmatamento: “Só o Brasil tem essa meta, tem seu mapa do caminho, mas queremos que todos tenham suas bases para fazer esses esforços.”
Marina também destacou o TFF, mecanismo financeiro que substitui a lógica de doação e cria meios para que recursos públicos investidos na proteção da floresta e biodiversidade alavanquem investimentos privados.
Legado
Questionada pelos jornalistas sobre legado da COP30, Marina afirmou que a conferência ampliou a compreensão pública sobre mudança do clima. Ela citou ainda as contribuições ao debate a partir do saber e vivência das populações amazônicas, que sofrem com isolamento, dificuldades logísticas e falta de acesso a alimentos, água e remédios.
“A Amazônia não recebe apenas um legado, mas oferece um legado”, destacou a ministra.
“Nós oferecemos o que havia de melhor e o que havia de melhor são as nossas paisagens, as nossas belezas acústicas, as nossas belezas imagéticas, as nossas belezas pictóricas. A Amazônia é uma explosão de vida e de beleza que é até uma distração a gente olhar para outros lados.”
Fonte: Agência Brasil








