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Com ajuda dos pés de frango, exportações da BRF crescem 25% em dois anos

Em 2024, empresa vai exportar o equivalente a um trimestre a mais do que embarcava em 2022 O aumento no número de habilitações para exportação e uma mudança na estratégia de vendas ao exterior fizeram os volumes embarcados pela BRF crescerem 25% em dois anos, para 1 milhão de toneladas, entre carne de frango, suína e produtos processados. Mas ainda …

Em 2024, empresa vai exportar o equivalente a um trimestre a mais do que embarcava em 2022

Leonardo Dall’Orto, vice-presidente de planejamento e mercado internacional da BRF — Foto: BRF/Divulgação

O aumento no número de habilitações para exportação e uma mudança na estratégia de vendas ao exterior fizeram os volumes embarcados pela BRF crescerem 25% em dois anos, para 1 milhão de toneladas, entre carne de frango, suína e produtos processados. Mas ainda há espaço para avançar, uma vez que mercados como a União Europeia seguem fechados.

“Vamos exportar este ano [o equivalente a] um trimestre a mais do que a gente exportava em 2022”, afirma Leonardo Dall’Orto, vice-presidente de planejamento e mercado internacional da empresa, em encontro com jornalistas durante o Sial (Salon International de l’Agroalimentaire), em Paris. Os números não incluem as vendas de frango ao mercado halal, que segue os preceitos do Islã.

Em 2023, a BRF obteve 67 novas habilitações e este ano mais 66 mercados se abriram. “O crescimento expressivo veio muito de habilitações que conseguimos”, observa. Mas também funcionou a estratégia de “buscar o que o cliente quer”. Nessa procura, o que se descobriu foi que a empresa, às vezes, não estava aproveitando a oportunidade de exportar o “que tinha em casa”, nas palavras do executivo.

Um dos produtos que ajudaram nesse avanço das vendas foi o pé de frango, cujo principal comprador é a China. Segundo Dall’Orto, os pés de frango produzidos em unidades não habilitadas para vender à China acabavam sendo descartados. Porém, havia demanda para eles em outros mercados, como Vietnã, Haiti e República Dominicana. “São países que pagam menos que a China, mas que querem o produto”, observa.

Outro item é o chamado CMS (carne mecanicamente separada), que a BRF não exportava. Segundo o executivo, a empresa usava todo o CMS proveniente de aves e suínos como matéria-prima para seu próprio produto final, como salsicha e mortadela. No entanto, começou a comprar CMS das empresas que não conseguem exportar e passou a vender a carne mecanicamente ao exterior a partir de suas unidades habilitadas. “Saiu de zero e hoje exportamos 4 mil a 5 mil toneladas por mês”. Os destinos são países da América do Sul, África do Sul e Filipinas.

Melhor aproveitamento dos produtos permitiu à BRF ter mais volume para exportação — Foto: BRF/Divulgação
Melhor aproveitamento dos produtos permitiu à BRF ter mais volume para exportação — Foto: BRF/Divulgação

O melhor aproveitamento dos produtos também permitiu à BRF ter mais volume para exportação, de acordo com Dall’Orto. Dentro do BRF+, programa que visa ganho de eficiência, foi realizado um trabalho para identificar os produtos que poderiam ser colocados nas formulações de industrializados, abrindo espaço para a venda de outros ao exterior.

“Começamos a liberar mais peito [de frango] para exportação. Primeiro, conseguimos desossar melhor e trocar um pouco de perna por peito. Então num momento que a perna está bem mais barata que o peito, consigo usar mais perna na formulação de processados e exportar mais peito, que dá mais volume”, diz.

A reabertura do mercado do Reino Unido, há pouco mais de ano, foi outro fator positivo para as exportações da BRF. Sobretudo porque o país demanda produtos cozidos – como tiras de frango para o food service e peito de peru – , que têm mais valor agregado. Além disso, admite Dall’Orto, pode ajudar a encurtar o caminho para retomada de vendas a países da União Europeia, fechada desde 2018, por causa da Operação Trapaça, desdobramento da Carne Fraca, deflagrada um ano antes. A suspeita era de adulteração em resultados de análises relativas à presença de salmonela nos produtos.

Segundo ele, a Europa está no processo de pré-listing atualmente. “A adequação das fábricas já fizemos, até pelo Reino Unido, onde os parâmetros são muito parecidos. Então as fábricas estão aptas a exportar”, diz. São 12 unidades de frango.

No curto prazo, a expectativa é de cenário de estabilidade para as carnes de frango e suína, com mercado bem equilibrado entre oferta e demanda, segundo o executivo. Nesse ambiente, os preços devem ficar estáveis, assim como os custos. “Estamos vindo de uma produção de grãos equilibrada nesta safra, então há um cenário de equilíbrio de custo e de preço”.

Dall’Orto evita estimativas, mas afirma que a perspectiva é de que as exportações da BRF continuem crescendo “a bom ritmo no ano que vem também”. Atualmente, a empresa tem 27% participação nas exportações nacionais de frangos, processados e suínos.

Só de carne de frango, são 170 mil toneladas por mês, sendo 70 mil destinadas ao mercado halal do Oriente Médio.

Afora o melhor aproveitamento do que já “tem em casa”, a BRF também tem buscado entender os hábitos de consumo de cada país importador, para elevar as vendas externas. “Estamos fazendo um trabalho de especificação para os clientes. Entender qual é o uso do produto lá na ponta tem trazido bastante valor”, afirma.

Mais uma vez o pé de frango para a China é um dos exemplos. E quem poderia imaginar, até os calos fazem diferença. “Os chineses avaliam o tamanho, a quantidade de calos, a cor da pele do pé. O pé sem calo vale mais. E estamos começando a classificar mais o pé porque o de 35 gramas vale mais do que o de 25 gramas”, relata.