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Baixo volume no Canal do Panamá compromete colheita de grãos nos EUA e gera preocupações

Às vésperas do início da colheita de uma nova safra de grãos nos Estados Unidos, a logística torna-se um ponto de maior preocupação entre os produtores rurais, estendendo-se para os demais elos da cadeia de abastecimento. O rio Mississippi reflete os meses de chuvas abaixo da média no país, comprometendo um dos modais mais utilizados …

Barcaças nas baixas águas do Missisisippi – Foto: Rory Doyle/Bloomberg.

Às vésperas do início da colheita de uma nova safra de grãos nos Estados Unidos, a logística torna-se um ponto de maior preocupação entre os produtores rurais, estendendo-se para os demais elos da cadeia de abastecimento. O rio Mississippi reflete os meses de chuvas abaixo da média no país, comprometendo um dos modais mais utilizados para o escoamento da produção norte-americana. As hidrovias têm recebido comboios de barcaças com menor volume de grãos, enquanto os valores dos fretes aumentaram em 85% em relação à média dos últimos três anos, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

Conforme matéria da agência de notícias Bloomberg relata, as preocupações dos produtores norte-americanos se intensificam diante de perdas no potencial produtivo, também devido às adversidades climáticas, e da concorrência acirrada com o Brasil na soja e no milho, assim como com a Rússia no caso do trigo. Uma situação semelhante ocorreu no ano passado.

Em 2022, os níveis excepcionalmente baixos das águas do Mississippi encalharam mais de duas mil barcaças, afetando o comércio na principal hidrovia do país. Cerca de 45% das exportações agrícolas dos Estados Unidos dependem dela. Desde meados de junho, as águas continuam a baixar e, como afirmou o analista de mercado Patrick Tyler Brown à agência Dow Jones, deverão atingir recordes ainda mais baixos.

Esses recordes podem se concretizar à medida que as previsões climáticas se confirmarem, indicando pouca ou nenhuma chuva nas regiões-chave do leito do Mississippi, o que dificulta a recuperação dos níveis.

Canal do Panamá

Petroleiro em trânsito no Canal do Panamá – Foto: Aris Martinez/Reuters

Além das crescentes preocupações com o rio Mississippi, o Canal do Panamá também está no radar, já que os níveis de suas águas estão historicamente baixos. Segundo informações da agência Reuters Internacional, as águas do canal não se recuperaram suficientemente desde o final da última estação chuvosa. As autoridades do Canal do Panamá, por onde passa 5% do comércio global, anunciaram a manutenção das restrições de transporte impostas no início do ano, o que contribui para o aumento dos custos logísticos globalmente.

Essas medidas resultaram em longas filas de navios aguardando para atravessar o canal, com o tempo de espera dobrando no último mês.

Segundo Isaac Hankes, analista sênior de clima da London Stock Exchange Group, “O Canal do Panamá está passando por grandes interrupções contínuas na cadeia de abastecimento de transporte marítimo devido a restrições ao tráfego relacionadas aos níveis de água muito baixos. Isto é o resultado das condições de seca que se desenvolveram rapidamente desde o início do ano até junho e que se mantiveram estáveis desde então. Na verdade, 2023 teve o início mais seco entre Janeiro e Julho desde 2015, que teve uma taxa de precipitação semelhante.”

A possibilidade de chuvas nas próximas duas semanas pode trazer algum alívio à situação, segundo o especialista. No entanto, prevê-se uma seca generalizada em todo o Panamá na segunda quinzena de setembro, o que manterá os níveis de água do Canal do Panamá excepcionalmente baixos nos próximos meses, apesar das melhorias temporárias nas previsões.

Os impactos na competitividade das exportações norte-americanas já começam a se tornar mais evidentes, conforme apontam analistas e consultores de mercado. O consultor de mercado Aaron Edwards, da Roach Ag Marketing, explica: “Os produtores até conseguiriam conseguir colher cedo, aproveitar preço, mas a logística, de fato, de entregar, dar a volta no porto, voltar, está comprometida. Já é algo que estamos vendo, que está impactando na tomada de decisão. Para mim, o que é interessante, é que a logística não afeta o quadro de oferta e demanda, mas está sim afetando a competitividade do grão brasileiro. Se é mais caro pegar o grão norte-americano, haverá mais demanda pelo grão brasileiro. Temos visto exportações de milho fortes, o fortalecimento cada vez mais da soja disponível do Brasil. Então, acredito que tem sim, especialmente no grão disponível, impacto na formação de preços no Brasil por ser mais competitivo em função do frete mais caro nos Estados Unidos”

Para que os reflexos em Chicago sejam mais intensos, a situação logística precisa impactar o volume de exportação de grãos norte-americanos. Aaron Edwards complementa: “A demanda está muito fraca. E se o mercado de exportação continuar fraco ou enfraquecer ainda mais, pode pesar sobre os mercados. Não acredito que isso esteja acontecendo ainda, eu acho que por enquanto é um desafio logístico que está se ajustando em preços de frete, prêmios, em diferentes regiões. Então, não está mexendo na bolsa hoje, mas no mover do grão e nos custos entre comprador e produtor, não na bolsa.”


Fonte: Notícias Agrícolas.