Os mercados de trigo tiveram fortes movimentos de alta nas últimas semanas devido a um clima desafiador na Rússia. Considerando as condições climáticas recentes e esperadas, diminuímos nossa estimativa de área colhida para 15,5M ha de trigo de inverno e 12,7M ha de trigo de primavera. Entendemos que uma safra acima de 80M mt e um rendimento acima de 3 mt/há é muito difícil de ser realizado. Com isso, nossa atual estimativa para a produção total da Rússia é de 79,2M mt. Apesar da forte reação dos mercados de trigo à queda das estimativas de produção da Rússia, ainda podem-se esperar novos movimentos de alta no curto e médio prazo, pois entendemos que outras consultorias deveram cortar seus números nos próximos dias e o ajuste no próximo relatório do USDA deve mostrar um balanço global ainda mais apertado.
Os mercados de trigo tiveram fortes movimentos de alta nas últimas semanas devido a um clima desafiador na Rússia, a principal exportadora global do grão. A Hedgepoint Global Markets aborda, em relatório, o cenário russo.
“Com isso, algumas perguntas relevantes surgem no mercado: há espaço adicional para deterioração da safra russa? O mercado já precificou totalmente a redução da oferta no país?”, observa Alef Dias, analista de Grãos e Macroeconomia da Hedgepoint.
Ainda há espaço para cortes na safra de inverno, e plantio de primavera começa a preocupar
Eventos incomuns de geada no início de maio afetaram regiões nos Distritos Central, Sul e Volga, diminuindo o potencial de rendimento e introduzindo um regime de emergência federal sob o qual os agricultores receberão indenização de seguro por perdas de safra. De acordo com a Russian Grain Union, 1,5M ha de áreas semeadas com grãos foram afetados pela geada tardia.
O modo de emergência foi introduzido em Lipetsk, Tambov, Voronezh e Volgogrado, pois esses oblasts foram os mais prejudicados. Além disso, o risco de seca permanece nos distritos do sul, centro e norte do Cáucaso, resultando em baixos níveis de umidade do solo e baixo potencial de rendimento do trigo de inverno.
“Considerando as condições climáticas recentes e esperadas, diminuímos nossa estimativa de área colhida para 15,5M ha de trigo de inverno e 12,7M ha de trigo de primavera”, afirma o analista.
Segundo Alef, de acordo com as últimas previsões meteorológicas, o clima mais quente ocorrerá nos distritos do sul e do norte do Cáucaso, com chuvas ocasionais no início de junho nos distritos central e do Volga. “As previsões meteorológicas de longo prazo preveem condições quentes e secas durante os meses de junho a agosto nos distritos do Sul, Volga e Central, o que, se verificado, poderá reduzir ainda mais o potencial de rendimento do trigo de inverno”, diz.
Além de todos os problemas com a safra de inverno, players e agências locais tem reportado um atraso no plantio da safra de primavera na Sibéria, aumentando riscos de menores rendimentos na região.
Atualmente, as estimativas privadas para a produção total de trigo da Rússia estão girando entre 81,5M mt e 85.3M mt, porém entendemos que essas figuras ainda estão ligeiramente otimistas.
“Com o impacto das geadas, a baixíssima umidade do solo e a expectativas de um clima ainda muito seco nos próximos dias – sem contar os crescentes riscos para a a safra de primavera – entendemos que uma safra acima de 80M mt e um rendimento acima de 3 mt/há é muito difícil de ser realizado. Com isso, nossa atual estimativa para a produção total da Rússia é de 79,2M mt”, aponta.
Em conclusão, apesar da forte reação dos mercados de trigo à queda das estimativas de produção da Rússia, ainda podem-se esperar novos movimentos de alta no curto e médio prazo, pois entendemos que outras consultorias deveram cortas seus números nos próximos dias e o ajuste no próximo relatório do USDA (a ser divulgado na próxima semana) deve mostrar um balanço global ainda mais apertado.
Contudo, é importante observar que, na Euronext, os fundos especulativos estão com posicionamentos comprados próximos das máximas dos últimos 5 anos, deixando pouco espaço para altas expressivas. Nos contratos americanos a situação é diferente, com o posicionamento em Kansas próximo das mínimas no mesmo período. Se Chicago e Kansas responderem mais ao aperto do balanço global nas próximas semanas, há espaço para forte valorização.