As mulheres são a espinha dorsal da segurança alimentar e dos sistemas mais sustentáveis no campo, sustentou a ativista global por direitos humanos e ex-primeira-dama da África do Sul Graça Machel.
“A liderança das mulheres pode ajudar a redesenhar o setor agroindustrial e torná-lo um setor de prosperidade para todos. Podem também construir comunidades mais vibrantes e saudáveis. As mulheres trazem possibilidades únicas e são muitas vezes as primeiras a adotarem práticas sustentáveis no campo, por exemplo”, afirmou Machel nesta sexta-feira (28/6), em um dos palcos do Global Agrobusiness Festival (GAFFFF).
Ela ressaltou que, em um cenário de mudanças climáticas e fome, empresas do agronegócio precisam escutar mais as opiniões das produtoras e empreendedoras rurais. O motivo, acrescenta ela, é porque as mulheres costumam decidir quais produtos serão consumidos em casa.
“No Brasil, até uma década atrás, as mulheres estavam ausentes do agronegócio de larga escala. Elas tendem a dar prioridade às necessidades nutricionais das famílias e comunidades”, citou. Marchel falou ainda que são as mulheres as mais alinhadas com integração entre culturas e diversificação nas lavouras.
Em paralelo, a ativista defende o direito à terra e à herança como vitais para mulheres produtoras, “pois possibilitam independência econômica e jurídica”. No Brasil, apesar de 30% de mão de obra agrícola ser feminina, só 19% são líderes de propriedades.
“Os direitos à terra e à herança permitem que as mulheres adotem práticas agrícolas sustentáveis e que elas possam conduzir da melhor forma o manejo do campo. Em países em que isso acontece, há melhoria na nutrição e no destino dos recursos públicos e privados”, observou.
Ligada à luta contra a fome no continente africano, Machel destacou que o setor agropecuário possui “profunda responsabilidade em alimentar de forma saudável o mundo e isso não tem nada a ver com classe social”. Ela menciona que, apesar os governos terem responsabilidade pelo combate à fome, a agroindústria não pode se esquivar de contribuir nesta meta.
“Estou do lado dos que argumentam que acessibilidade aos alimentos é uma questão de soberania e as grandes empresas precisam se preocupar com soberania [alimentar] nos países que atuam”, ressaltou.
Ativismo
Aos 78 anos, Machel, que foi casada com Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, passou a ser referência no debate sobre o combate ao racismo e sobre a defesa do empoderamento feminino e da segurança alimentar.
“A segurança alimentar continua o desafio mais preeminente do nosso tempo”, enfatizou.
Sobre o Brasil, ela afirmou que o país tem potencial para alimentar o mundo e exporta suas principais culturas, mas que não consegue fazer o dever dentro de casa.