Milho

Produção global sobe, e milho do Brasil perde espaço no mercado Internacional

Exportações brasileiras do cereal bateram recorde em 2023, quando somaram 56 milhões de toneladas, mas, neste ano, segmento projeta declínio de mais de 25% Depois de o volume das exportações brasileiras de milho ter batido recorde no ano passado, o país encontra dificuldades para colocar seu produto no mercado externo em 2024. A recuperação da oferta em …

Exportações brasileiras do cereal bateram recorde em 2023, quando somaram 56 milhões de toneladas, mas, neste ano, segmento projeta declínio de mais de 25%

Projeções da Anec apontam para exportação de milho do Brasil de 41 milhões de toneladas, mas volume pode ser ainda menor — Foto: Ernesto de Souza

Depois de o volume das exportações brasileiras de milho ter batido recorde no ano passado, o país encontra dificuldades para colocar seu produto no mercado externo em 2024. A recuperação da oferta em importantes produtores e a queda do apetite chinês devem aumentar as reservas nacionais do cereal, exercendo ainda mais pressão de baixa sobre as cotações no mercado interno.

No ano passado, o Brasil exportou 56 milhões de toneladas de milho, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Já neste ano, o país deverá perder o protagonismo que teve em 2023, quando foi o maior exportador global do grão. A entidade estima que o volume dos embarques de milho em 2024 deverá ser de 41 milhões de toneladas.

Entre agentes de mercado, há previsões ainda mais pessimistas. Nos cálculos da consultoria Royal Rural, o Brasil deverá negociar 39 milhões de toneladas com o exterior em 2024, já que muitos concorrentes, como a Argentina, tiveram recuperação na oferta.

“No ano passado, o Brasil não teve a competição da Argentina. Após sofrerem com a seca, eles [os argentinos] retomaram a capacidade de produção, e de janeiro a agosto deste ano, exportaram 24,5 milhões de toneladas de milho. São 7 milhões de toneladas a mais do que no ano passado”, destaca Ronaldo Fernandez, analista da Royal Rural.

E não foi só a Argentina que ampliou sua oferta neste ano. O mesmo aconteceu em outros grandes produtores de milho do mundo, como Estados Unidos, Europa e Ucrânia. Esse quadro deixou os compradores internacionais mais confortáveis para buscar outras fontes de oferta do cereal.

Entre os importadores que preteriram o milho brasileiro, o destaque é a China. Após ser o principal cliente do Brasil nas vendas de milho no ano passado, com a importação 17,4 milhões de toneladas das pouco mais de 56 milhões de toneladas que o Brasil negociou com importadores, o envio de milho brasileiro à China não chegou a 2 milhões de toneladas neste ano, de acordo com Fernandes.

“Há tempos a China tem planos para ser autossuficiente na produção de milho, para tentar controlar o preço da carne em seu mercado interno. Eles conseguiram algum êxito nesse objetivo, com recuperação de áreas que foram perdidas pelas enchentes”, afirma o analista.

Segundo ele, um indicativo de que o gigante asiático está reduzindo sua dependência do milho importado está nas projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para importação. De agosto a outubro, o órgão reduziu em 4 milhões de toneladas sua estimativa de compras internacionais chinesas, projetando agora 19 milhões de toneladas. O analista da Royal Rural acredita que o USDA fará novos cortes até o fim do ano.

Com a forte concorrência internacional no fornecimento de milho, Fernandes acrescenta que o estoque final de milho no Brasil poderá chegar a 10 milhões de toneladas, o maior volume desde 2018. Caso confirmada, essa projeção causaria uma enxurrada de oferta no mercado interno, colocando pressão sobre os preços e escancarando velhos problemas de infraestrutura no país.

“Esse excedente de produção vai estressar nossa capacidade estática de armazenamento. Vamos imaginar que, se chover adequadamente, a soja vai ter boa produção. Com esse tamanho de estoque final, onde vamos colocar tanto milho e tanta soja?”, questiona o analista.

Os EUA também devem abocanhar boa parte do mercado mundial de milho em 2023/24. Com a maior safra de sua história (389,67 milhões de toneladas) e exportações de 58,23 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura do país, o país deve dominar as vendas externas para destinos como México e União Europeia.

“Nesse momento, os grandes compradores vão priorizar as aquisições de milho dos EUA, que por ora é a origem mais barata. Assim, o Brasil deve ficar sem dar tração às suas exportações”, avalia Leonardo Martini, consultor em gerenciamento de risco da StoneX.