Aumento na produção de resíduos em 2024: destinação correta faz a diferença

Da parcela coletada, maior parte (59,7%) teve destinação adequada

Catadores de lixo podem aproveitar resíduos de prédios públicos de Brasília
Catadores de lixo podem aproveitar resíduos de prédios públicos de Brasília

Em 2024, o Brasil produziu 81,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, representando um aumento de 0,75% em relação ao ano anterior. Desse total, 76,4 milhões de toneladas (93,7%) foram coletadas, e 41,4 milhões de toneladas (59,7%) receberam destinação ambientalmente adequada, sendo encaminhadas a aterros sanitários.

O volume total de resíduos equivale a uma média de 384 kg por habitante ao ano, ou aproximadamente 1,241 kg por dia. Esses dados foram apresentados no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2025, divulgado recentemente por uma entidade do setor.

Apesar de ainda haver 40,3% dos resíduos sendo descartados de forma inadequada — uma melhora em relação aos 41,5% do ano anterior, quando lixões e descarte irregular predominavam — o problema persiste. “No ano em que o Brasil proibiu todas as formas de destinação irregular dos resíduos coletados nos municípios, ainda estimamos a existência de quase 3 mil lixões que recebem passivos ambientais que colocam a saúde pública em risco, mas que poderiam se tornar ativos econômicos para o país”, afirmou o presidente da entidade responsável pelo estudo.

Em 2024, cerca de 7,1 milhões de toneladas de resíduos secos foram recicladas, o que corresponde a 8,7% do total gerado. Desse volume, 2,5 milhões de toneladas tiveram origem no serviço público de coleta, enquanto 4,6 milhões de toneladas foram coletadas de forma informal e enviadas diretamente para reciclagem. Aproximadamente 52% desse material foi recuperado, enquanto o restante foi descartado como rejeito.

Reciclagem

Pela primeira vez, o estudo abordou o reaproveitamento de resíduos orgânicos ou não recicláveis destinados à geração de energia, incluindo combustível derivado de resíduos (CDR), produção de biogás e biometano, além de compostagem. Segundo Antônio Januzzi, diretor técnico da entidade, a metodologia unificou dados sobre a recuperação de materiais orgânicos e resíduos inviabilizados para reciclagem mecânica, como papéis contaminados por materiais orgânicos. “A própria Política Nacional de Resíduos define que podemos considerar reciclagem o uso de resíduos na geração de outros elementos aproveitáveis.”

Os dados indicam que a reciclagem bioenergética — que engloba a transformação de resíduos orgânicos em energia ou composto — representa 11,7% do total de resíduos gerados, enquanto a reciclagem mecânica de materiais secos, como papel, vidro, plástico e alumínio, chega a 8,7%.

Geração de energia

O estudo também analisou a logística reversa no país, considerando 13 sistemas diferentes, incluindo embalagens, eletrônicos, baterias, pneus, lâmpadas, medicamentos, entre outros. Segundo Januzzi, os números apontam para uma evolução na implementação de uma economia circular. “Este ano, foi publicado o Decreto 12.688/2025, conhecido como Decreto do Plástico, que amplia de 13 para 14 os materiais incluídos nesse modelo de gestão de resíduos, impulsionando o setor.”

A Confederação Nacional de Municípios destacou que municípios com até 50 mil habitantes são os que mais demandam apoio para eliminar lixões e implantar aterros sanitários. A entidade reforça que a transição exige atuação conjunta de União e estados, com suporte técnico e financeiro. Entre os desafios estão o alto custo de operação e a dificuldade de encontrar áreas compatíveis com as normas técnicas, especialmente em regiões como o Norte, onde a disponibilidade de locais que atendam aos critérios é quase inexistente. Municípios de pequeno porte, muitas vezes, não dispõem de recursos para estabelecer e manter esses sistemas, reforçando a necessidade de uma atuação federativa para erradicar os lixões.

Quanto ao potencial de uso de resíduos na geração de energia, a confederação alerta que essa prática tem custos elevados e é viável principalmente para municípios ou consórcios com mais de 300 mil habitantes. Além disso, recomenda que a geração de energia seja baseada em rejeitos — resíduos sem viabilidade de reciclagem — para evitar a exclusão social de catadores e catadoras.

Logística reversa

A edição do panorama deste ano, que tem como ano-base 2024, também inclui uma análise da situação da logística reversa no país a partir dos 13 sistemas existentes: agrotóxicos, baterias de chumbo ácido, eletrônicos, embalagens de aço, de vidro, de óleo lubrificante e embalagens em geral, óleos lubrificantes usados, lâmpadas, latas de alumínio, medicamentos, pilhas e pneus.

Segundo Jannuzi, os dados são positivos de forma geral, mostrando uma evolução na adução de um modelo de economia cíclica no país. “Este ano, a gente teve a publicação do Decreto 12.688/2025, também chamado de Decreto do Plástico, que vai fazer crescer de 13 para 14 os materiais que serão incluídos nessa economia cíclica. E isso também é um impulsionador importante dentro da cadeia da gestão de resíduos”, conclui.

CNM

Em nota enviada à Agência Brasil, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) aponta que os municípios com até 50 mil habitantes são os que mais demandam apoio para eliminar lixões e implantar aterros sanitários. “O encerramento de lixões e a implantação e operação de aterros sanitários exigem atuação federativa, com União e estados apoiando os municípios técnica e financeiramente”, defende a entidade.

A CNM avalia há vários desafios para a implantação de aterros sanitários, como o alto custo de operação e a dificuldade de encontrar áreas que atendam aos critérios da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que levam em conta, por exemplo, o tipo de solo e a proximidade com lençol freático e com área urbana.

“Para algumas regiões, como o Norte do país, torna-se quase impossível encontrar um local que consiga atender todas as exigências. Não obstante, em alguns estados com municípios com grande extensão territorial e pequeno porte populacional, os consórcios ficam inviáveis, pois para conseguir contar mais de 100 mil habitantes passam a ser necessárias estações de transbordo, aumentando o custo. Porém, municípios de pequeno porte não dispõem de recursos financeiros suficientes, motivos pelos quais a CNM reforça a necessidade de atuação federativa para o Brasil encerrar todos os lixões.”

Sobre o potencial para uso dos resíduos na geração de energia, a confederação destaca que esse reaproveitamento tem alto custo e cita estudos que apontam sua viabilidade apenas para municípios ou consórcios com mais de 300 mil habitantes. “A CNM alerta que a geração de energia deve se basear em rejeitos [resíduos sem viabilidade para reciclagem], de modo a não gerar exclusão social de catadores e catadoras”, acrescenta a nota.

Matéria ampliada às 19h27 para incluir manifestação da Confederação Nacional de Municípios (CNM).

Fonte: Agência Brasil